
De maneira sintética, analisam‑se criticamente os significados implícitos no conceito de romanização com referimento ao contexto académico português. Propõe‑se também uma leitura do fenómeno baseada numa relação biunívoca entre a componente indígena e romana, facto que permite uma compreensão mais adequada dos dados arqueológicos.
É intenção da signatária apresentar os vários conjuntos de cerâmica campaniense recolhidos em contexto de arqueologia urbana de diversos sítios arqueológicos da cidade de Lisboa: Praça da Figueira, Palácio dos Condes de Penafiel, Zara, Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e Teatro Romano de Lisboa.
O estudo dos exemplares deste tipo cerâmico torna‑se bastante importante, pois estes integram, em parte, o período da romanização deste núcleo indígena no extremo ocidente da Península Ibérica.
Assim, os fragmentos de cerâmica de verniz negro de época romana aqui representados ilustram momentos importantes da chegada do exército romano, da sua instalação e consequentemente da alteração dos padrões de consumo na actual Lisboa entre meados da segunda metade do século II a.C. e finais do I a.C.
As ânforas Dressel 20 recolhidas em Monte Molião são numerosas, variando tipologicamente de acordo com a própria cronologia de ocupação do sítio (séculos I e II). Estão presentes quer as de tamanho normalizado quer as parvae. Se bem que muitas delas tenham sido encontradas em níveis de deposição secundários, um grupo considerável foi recuperado num contexto homogéneo, o que permitiu um estudo integrado, também no que se refere à sua própria utilização, bem como à do produto que transportaram, uma vez que esse contexto está associado a uma unidade doméstica de produção de preparados de peixe.
Neste trabalho apresenta‑se o estudo das ânforas romanas recolhidas nas escavações realizadas por Irisalva Moita e Bandeira Ferreira na Praça da Figueira (Lisboa) durante as obras de construção do metro de Lisboa no princípio dos anos 60 do século XX. São abordados os vários aspectos relacionados com a especificidade desta colecção de materiais, mas sobretudo do significado que a referida colecção tem no estudo da economia e das relações comerciais da antiga cidade de Olisipo, no âmbito do Império Romano.
No canto Noroeste da Praça D. Luís I, Lisboa, foi identificado um contexto romano, directamente sob a grade maré do século XVII aqui descoberta, tratando‑se provavelmente de uma área de fundeadouro. Este contexto contém exclusivamente materiais de época romana distribuídos por uma zona de forte concentração, envolta por material disperso, composta nomeadamente por ânforas de fabrico lusitano, muitas das quais conservam ainda no interior vestígios de resina do revestimento, mas também de origem exógena. São também abudantes a cerâmica comum, a terra sigillata sudgálica, hispânica e africana. No centro deste conjunto encontrava‑se uma peça naútica com 9 metros de comprimento com numerosos entalhes de tipologia romana. Em menor quantidade ocorrem ainda restos de fauna e outras matérias orgânicas.
Um armazém de período romano, datado de século 5 d.C. foi encontrado durante escavações que ocorreram em Lisboa no Verão de 2011. Um conjunto de ânforas para armazenamento de produtos piscícolas, dos tipos Almagro 51C e 50, foram encontradas juntamente com terra sigillata clara africana. Esta unidade está localizada no cruzamento da Rua da Madalena com a Rua de S. Julião, na Baixa de Lisboa.
A edificação do teatro nos inícios do séc. I d.C. inaugurou uma nova realidade urbanística na antiga cidade de Olisipo. A escolha do local para a construção deste edifício, situado a meia encosta de uma colina de acentuado declive, obrigou a um ambicioso projecto de engenharia e uma profunda contenção da encosta.
A criação de terraços, ou plataformas, na vertente a sul do teatro, vencendo um acentuado desnível, obrigou à remoção de um enorme volume de terra e a uma cuidada planificação da construção.
Um sábio aproveitamento dos recursos naturais e uma solução construtiva engenhosa foram factores decisivos para a transformação deste monumento cénico numa marca emblemática da cidade de Olisipo.
Os autores publicam a terra sigillata do acampamento militar romano de Alto dos Cacos e reflectem sobre o significado de uma presença castrense na região no período imperial romano.
O Complexo Mineiro Romano de Tresminas e Jales, situado no concelho de Vila Pouca de Aguiar, onde se explorava essencialmente ouro, representou para os romanos uma importante fonte de riqueza para sustentar o crescimento do Império Romano.
Tendo sido iniciada pelo sistema de exploração de poços e galerias que atingiram os 120 m de profundidade, viria, ao longo dos sécs. II/III a tornar‑se uma exploração intensiva a céu aberto, tendo sido escavadas duas grandes cortas mineiras que impressionam pelo seu tamanho. A exploração terminou em meados do séc. III d.C..
O Complexo encontra‑se muito bem conservado, tendo‑se identificado três barragens, vários canais, 1 cisterna, 2 povoados (um deles com 6 ha), uma necrópole e um recinto talvez religioso.
O complexo termo‑medicinal de Aquae Flauiae é um conjunto monumental do qual se conhecem até ao momento três piscinas, duas das quais de grandes dimensões, três salas com pavimento em opus signinum, um tanque de depuração e distribuição das águas termais e um complexo sistema de abastecimento e escoamento das águas. Abordar‑se‑á
a problemática do termalismo antigo da perspectiva da exploração e administração do território em época romana.
Nos últimos anos realizaram‑se um conjunto de intervenções que permitiram a identificação e escavação de vários contextos funerários nos agri do Município Olisiponense, contribuindo assim para uma melhor caracterização destas manifestações no referido território.
Neste trabalho são apresentados alguns contextos funerários inéditos da zona mais ocidental da vasta área do Município Olisiponense, contribuindo assim para a sua caracterização num âmbito cronológico que se centra essencialmente no período entre Augusto e o início do século II d.C., quando o ritual predominante corresponde à cremação com deposição dos vestígios osteológicos humanos e cinzas em urna. O século II d.C. é marcado por profundas transformações no ritual funerário, de que se destaca a queda da prática da incineração, que entra progressivamente em desuso na passagem do século II para o III d.C., apesar das persistências tardias da sua utilização.
O espólio vítreo de cronologia alto‑imperial proveniente do Olival e da Azinhaga do Senhor dos Mártires, embora não numeroso, reveste‑se de um inegável interesse pela sua relativa diversidade e estado de conservação. Apresenta‑se aqui um conjunto de peças inéditas, actualmente em depósito no Museu Nacional de Arqueologia, que constituem uma amostra do repertório vítreo típico dos ambientes funerários dos séculos I‑II d.C..
A informação apresentada materializa uma primeira abordagem ao conjunto de 20 fragmentos de almofarizes provenientes dos setor da porta sul e das termas da cidade de Ammaia. A seleção iniciada em 2011, apresenta os resultados provenientes do espólio exumado durante as campanhas de 1995, 1996, 1999, 2001, 2002 e 2009.
Propõe‑se materializar análise quantitativa, caracterização morfológica e técnica, com aprofundamento da associação entre fabrico e forma, bem como a apresentação das respetivas orientações cronológicas do conjunto identificado.
Relembramos que o primeiro estudo onde se aborda a cerâmica comum proveniente de São Salvador de Aramenha é da autoria de Josefa Neves (Neves, 1972). Acrescenta‑se com esta sucinta análise o número de formas provenientes da região de São Salvador de Aramenha.
A intervenção arqueológica efectuada, em 2009/2010, num edifício do Centro Histórico de Viseu, permitiu colocar a descoberto os alicerces de uma habitação romana, datada dos finais do séc. I e inícios do séc. II d.C, provavelmente pertencente a uma insula. No presente trabalho destacamos o achado in situ de parte de um pavimento composto por tijolos em losango (opus spicatum), visível num dos compartimentos.
A descoberta desta estrutura, constituiu um contributo fundamental para a construção histórica do desenvolvimento urbano da cidade romana de Viseu. O facto de este edifício se encontrar próximo do traçado de um dos eixos principais da cidade, o decumanus maximus, apontado para a Rua do Gonçalinho, é consentâneo com a distribuição ortogonal da malha urbana.
Durante a Época Romana, o chumbo foi utilizado em larga escala, nomeadamente para fins militares, como nos projécteis de chumbo para funda (glandes plumbeae). Neste trabalho apresenta‑se um estudo preliminar sobre a caracterização elementar e isotópica do chumbo de 24 glandes plumbeae, de tipologias diversas, provenientes do Alto dos Cacos (Almeirim) e possivelmente associadas ao Exército Romano da Hispânia Ulterior. Os artefactos foram analisados por espectrometria de fluorescência de raios X e por espectrometria de massa com plasma acoplado por indução. A análise elementar permitiu identificar a presença de alguns elementos vestigiais numa matriz de chumbo. A composição isotópica do chumbo sugere a existência de dois grupos distintos, independentemente das tipologias dos artefactos.
Apresenta‑se de forma sumária alguns dados obtidos nas campanhas de minimização da jazida Torre Velha 1 (Serpa) afetada pela construção e enchimento da albufeira da Barragem da Laje (Serpa), no âmbito do EFMA.
Torre Velha 1 graças à presença de uma serie de outras jazidas contemporâneas da sua sequência ocupacional (cemitério e estabelecimentos rurais dispersos no território), num espaço geográfico relativamente restrito, revela‑se uma jazida de particular interesse para tentar compreender como funcionava a propriedade de que formava parte a (s) villa(e) e o que sucedeu ao longo da diacronia de ocupação do sítio, em termos arquitetónicos.
A indústria de preparados de peixe constituía uma das actividades económicas centrais de Olisipo, tendo a sua produção cessado em época indeterminada, presumivelmente, entre o século V e o VI.
Após o abandono dos complexos de produção de preparados de peixe do NARC, parece verificar‑se nesta zona da cidade alguma regressão urbana conservando‑se, no entanto, níveis de ocupação do espaço que fornecem espólio com cronologia tardo‑antiga.
Apresentam‑se os dados de um contexto tardio identificado junto ao eixo viário ocidental à cidade, onde constam cerâmicas finas (sigillata africana, DSP gálica e sigillata foceense), ânforas e produções cerâmicas locais e regionais, que suscitam questões relacionadas com as ocupações tardias dos espaços periurbanos, com a caracterização dos contextos arqueológicos e com a dinâmica comercial urbana da segunda metade do século V e inícios do século VI.
Uma intervenção arqueológica de salvamento, desenvolvida em 1997 pelo Serviço de Arqueologia do Museu da Cidade (Lisboa), identificou três enterramentos infantis na zona da esquina NE do cruzamento da Rua de São Nicolau com a Rua dos Douradores (RSN3), em plena Baixa lisboeta. A relação destes elementos com as entidades arqueológicas da envolvência, em particular uma zona de acumulação detrítica e vestígios de uma construção (RSN4), permitem articular a informação e postular a existência de um espaço funerário datável da Antiguidade Tardia, presença cujo significado urbanístico se analisa aqui.
Implantado numa encosta do vale do Arda, o casal tardo‑romano da Malafaia (Arouca) exemplifica, no Norte de Portugal, um tipo de instalações agrícolas romanas que vem sendo designado por casal, quinta ou granja. Objecto de intervenções arqueológicas desde 1995, este sítio arqueológico é composto por alguns edifícios com vários compartimentos, revelando conjuntos artefactuais relativamente modestos, onde predomina a cerâmica comum de produção local e regional, sendo muito raros os itens que possam considerar‑se como indicadores de prestígio. A sua implantação deve remontar ao século II, estando todavia melhor representada a época entre o Baixo Império e o período suevo‑visigótico; por alturas do século X verificou‑se uma reocupação pontual do sítio, documentada por cerâmicas e confirmada por datações de 14C.
O presente artigo pretende analisar a desagregação do comércio mediterrânico no Baixo Guadiana, durante a Antiguidade Tardia, através das informações fornecidas pela terra sigillata africana e foceense tardia. Salvo notáveis excepções (Delgado, 1988 e 1992; Coutinho, 1997), estas classes cerâmicas não têm sido alvo de estudos sistemáticos que informem sobre as relações económicas entre as regiões implicadas. Assim, produzimos aqui uma síntese dos dados de dois trabalhos de investigação recentes (2012 e 2013). Esta procurará observar as semelhanças e diferenças entre um território rural (Alcoutim) e um centro urbano (Mértola) do Baixo Guadiana, tendo por objectivo uma compreensão preliminar – porque baseada apenas em cerâmicas de mesa exógenas – das dinâmicas económicas tardo‑antigas.
O Castelo de Crestuma, um esporão rochoso na margem sul do Douro, é objecto de investigação arqueológica desde 2010. Os trabalhos têm revelado uma estação extremamente complexa, com testemunhos da Idade do Ferro, tardo‑antiguidade (V‑VI) e Reconquista Cristã (X‑XI). A par da ocupação em altura, possivelmente fortificada, registam‑se outros indícios nos areais ribeirinhos do sopé, tendo‑se identificado o que parece ser uma estrutura de atracagem, actualmente submersa. Tal evidência poderá contextualizar o achado de um diversificado conjunto de importações, nomeadamente sigillata tardia foceense e norte‑africana, vidros e outros itens. Os vestígios de construções correspondem principalmente a estruturas negativas, nomeadamente centenas de “buracos de poste”, aplanamentos e outros entalhes que cobrem toda a superfície rochosa do monte.
O Estudo de Impacte Ambiental dos troços de ligação Pisão‑Beja e Pisão‑Roxo, do projeto hidroagrícola do Subsistema de Rega de Alqueva, preconizado pelo Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, permitiu identificar a estação Herdade do Pomar / Monte da Ramada 1. A intervenção apresentada enquadra‑se nos trabalhos de acompanhamento arqueológico da empreitada do Bloco de Rega de Ervidel. No contexto de arqueologia preventiva, estes trabalhos de minimização revelaram um forno doméstico, dedicado à produção de cerâmica de construção e de uso comum, sugerindo uma cronologia Visigótico/Emiral.