Os dados para o Bronze Final permanecem desconhecidos. Durante o Bronze Inicial a presença de objectos metálicos e de alguns túmulos opulentos conectados com o vale parecem “marcar fisicamente” a paisagem. Nas montanhas os monumentos sob tumuli indiciam a importância do papel social da morte e da necessária preservação da memória ancestral. Durante o Bronze Médio os dados revelam modos de vida e concepções distintas da morte. Se para as comunidades serranas esta parece continuar a ser um importante marco espacial, nos vales predomina a morte invisível, quiçá associada à perda da importância do cadáver enquanto referência coletiva e espacial. Há, ainda, certos lugares ancestrais de memória e de grande significado colectivo (re)visitados entre o Bronze Inicial e o Bronze Final.
Em 1915, durante a construção do Hospital da Santa Casa da Misericórdia (Santo Tirso), e num pinhal pertença da Quinta do Gião, foram recuperados seis vasos cerâmicos e um bracelete em bronze. Ainda que os seus micro-contextos de deposição não sejam claros, a quantidade de vasos recolhidos e as suas tipologias têm permitido equacionar a hipótese da existência, naquele local, de uma necrópole da Idade do Bronze. Visando o seu enquadramento cronológico mais preciso, foi efetuada a recolha de fuligem do interior de um dos vasos para posterior datação por AMS. O resultado obtido, ainda que não podendo ser extrapolado aos restantes materiais, confirma, ainda assim, o uso do local para práticas funerárias já durante a Idade do Bronze Médio.
O povoado de São Lourenço identificado com o CNS nº 51142, localiza -se no distrito de Viseu, concelho de Castro Daire, freguesia de Moledo (CMP nº 167). Os novos dados arqueológicos atestam não só, a morfologia da muralha e o carácter fortificado do sítio, como afinam a cronologia de fundação e ocupação do povoado. Implantado em elevação de topónimo idêntico, regista núcleo amuralhado com área aproximada de 26434 m2 (perímetro c. 715 metros). Os indicadores cerâmicos balizam a possível fundação do povoado no Bronze Final. Demonstra o conjunto de materiais cerâmicos, numismas e fíbulas continuidade da ocupação na Idade do Ferro e período romano, existindo igualmente registo de um numisma associado ao reinado de D. João I.
No âmbito das intervenções de Vieira Natividade nas chamadas “grutas de Alcobaça” destaca -se a bem descrita escavação de um enterramento da Idade do Bronze na parte superior da Gruta das Redondas. Se bem que conhecido desde então, o conjunto do espólio associado merece uma abordagem mais actual a partir da sua revisão e, nomeadamente, do estudo e datação de uma amostra de cereal contida num dos recipientes e da análise composicional do excepcional conjunto de artefactos metálicos recuperado. A partir dos resultados obtidos com o novo estudo reflecte -se sobre a respectiva relevância para a caracterização e compreensão do Bronze Antigo na Estremadura Atlântica.
A Horta do Cabral 6 localiza -se próximo da vila do Torrão, numa faixa aplanada com substrato de calcreto (caliço), no qual foram abertas e, posteriormente, colmatadas, estruturas negativas de tipo fossa. Nas 17 estruturas intervencionadas recuperaram -se elementos cerâmicos, pedra lascada e afeiçoada e fauna mamalógica, entre a qual se conta um veado juvenil completo e articulado, depositado intencionalmente numa das fossas e atribuível ao Bronze Final do Sudoeste, através da datação pelo radiocarbono de uma amostra do seu material ósseo. Foram ainda recolhidos e identificados elementos vegetais carbonizados. O carácter doméstico da ocupação do sítio parece evidente. Insere -se num conjunto de sítios caracterizados pelo agrupamento de estruturas negativas e, normalmente, sem estruturas positivas, que têm vindo a ser identificados em diversos locais do Sudoeste peninsular. Este tipo de jazida da Pré-História recente permaneceu desconhecido até muito recentemente.
Artefactos e vestígios de produção metalúrgica do Outeiro do Circo foram objecto de caracterização elementar e microestrutural. A datação pelo radiocarbono dos contextos dos materiais indicou uma cronologia do último quartel do II Milénio a.C. Um cadinho encontra‑se associado à produção de ouro e dois nódulos metálicos relacionam‑se com operações primárias de produção de bronze. Um cone de fundição atesta o vazamento de um bronze de composição semelhante à dos restantes artefactos metálicos, com excepção de um exemplar, cujo reduzido teor em estanho será devido à utilização de sucata. As cadeias operatórias dos artefactos incluíram operações de martelagem e recozimento. Os materiais analisados enquadram‑se na metalurgia coeva do sul de Portugal, caracterizada por bronzes binários com teores apropriados de estanho.
Apresentam -se algumas questões sobre as vantagens do método comparativo na interpretação de processos de interacção identificados no registo arqueológico e nas fontes escritas. A comparação incide sobre alguns case studies que reflectem contactos entre grupos europeus e africanos em contextos diferentes (São Jorge da Mina e Angola), bem como sobre a construção das identidades dos Luso-africanos. Estes casos permitem colocar questões sobre as representações dos “Tartéssios” nas fontes antigas e sobre os processos de interacção que tiveram lugar no Sudoeste da Península Ibérica durante a primeira metade do I Milénio a.C.
Este trabalho tem como objectivo dar a conhecer a existência de produções cerâmicas da região do Baixo Tejo que se parecem ter inspirado em certos elementos morfológicos característicos dos vasos gregos. Trata -se de ocorrências pouco frequentes, que surgem até ao momento apenas em recipientes de cerâmica cinzenta, e que não parecem corresponder a uma produção estandardizada propriamente dita, mas antes a tendências pontuais no quadro artefactual regional. Ainda que seja difícil determinar a cronologia exacta deste fenómeno, atendendo aos dados arqueológicos actualmente disponíveis, a sua adscrição a momentos tardios da Idade do Ferro parece plausível, revelando, de certa forma, a adopção e incorporação de influências do Oriente Mediterrâneo no repertório cerâmico da área litoral centro atlântica do território português.
O trabalho apresenta a caracterização elementar de objectos de uso pessoal da necrópole do Monte do Bolor 1-2 (Beja). Os artefactos à base de cobre encontravam -se associados a espólio característico da I Idade do Ferro, incluindo exemplares de luxo e/ou exóticos, tais como contas de colar de ouro, prata, vidro ou cornalina, arrecadas e braceletes de prata e escaravelhos de faiança egípcia. As análises por microespectrometria de fluorescência de raios X, dispersiva de energias, identificaram um conjunto constituído por cobres, cobres arsenicais, bronzes e bronzes com chumbo. Discute -se a diversificação das ligas no sul do território nacional durante a I Idade do Ferro, assim como a relação entre a composição, fusibilidade, cor, funcionalidade e possível proveniência dos metais desta necrópole.
Nas escavações realizadas na década de 40 do século XX na Azougada (Moura) recolheram -se três pratos de balança, bem como onze ponderais de metal e um de xisto, que revelam a possível coexistência, no interior do Alentejo, no século V a.C., de dois padrões metrológicos baseados num siclo ligeiro de 7,83 gr. e num siclo pesado de 9,4 gr., cujas origens remontam ao Bronze Final e aos inícios da Idade do Ferro, respectivamente, conhecendo paralelo em época Pós -Orientalizante na Andaluzia Ocidental e na Extremadura espanhola, com destaque para Cancho Roano.
O Castro da Azougada é um sítio tipo “monte” dedicado à exploração agropecuária e recursos fluviais, implantando - se na margem esquerda da foz do rio Ardila, na margem esquerda do Guadiana. A cultura material baliza cronologicamente o sítio entre o século V a.C. e a primeira metade do século IV a.C. O espólio de 20 ossos trabalhados recolhidos nas escavações da década de 1940, é inédito e o único caso conhecido para a margem esquerda do Guadiana. O conjunto é constituído por peças trabalhadas utilizando conchas marinhas e restos de mamíferos de dimensão superior à do coelho. A indústria óssea confirma a preconização de actividades pesqueiras, revela uma produção têxtil local e a prática de potenciais actos mágico -religiosos.
Os queimadores são peças singulares das comunidades da plena Idade do Ferro do Sudoeste da Península Ibérica. A sua presença em Mesas do Castelinho (Almodôvar) mostra uma utilização ritual, associada a cossoiros e a artefactos que remetem para libações. Esta associação contextual interessará na procura da sua funcionalidade noutros contextos habitacionais ou na explicação da sua presença e utilização em necrópoles, proporcionando novas vias na investigação.
Duas sondagens arqueológicas na área do Espigão das Ruivas, Cascais, em 1991, possibilitaram identificar vestígios de uma ocupação que perdurou intermitentemente entre a Idade do Ferro e o período medieval. O sítio arqueológico assenta sobre um esporão natural, do litoral, na falésia do lado poente da praia de Porto Touro ou Guincho Velho. Dali observa -se uma vasta área de mar entre o Cabo Raso e o Cabo da Roca. Os materiais mais antigos mostram uma ocupação inicial da Idade do Ferro, enquanto os mais modernos são já do período islâmico, associados a uma estrutura quadrangular de pedra seca.