A descoberta de um crânio humano com cerca de 400.000 anos de antiguidade na Gruta da Aroeira vem reforçar o conhecimento da diversidade humana e do povoamento acheulense da Europa. O crânio foi encontrado na Unidade 2, associado a uma importante colecção de bifaces e a uma fauna de grandes mamíferos. O fóssil é uma porção considerável do lado direito da caixa craniana, sem o occipital, mas conservando parte do lado esquerdo da escama frontal e do toro supraorbital, bem como a região interorbital, incluindo a parte vertical dos ossos nasais. Algumas características do crânio da Aroeira são traços primitivos presentes em fósseis do Plistocénico médio mas ausentes nos Neandertais.
As mais antigas investigações arqueológicas no âmbito do Paleolítico da bacia hidrográfica do rio Minho (NW Peninsular) iniciaram- se na primeira metade do século XX. Por esta mesma altura realizaram -se também os primeiros estudos geomorfológicos na região, que permitiram correlacionar artefactos líticos com terraços fluviais. Durante a segunda metade daquele mesmo século, o estudo do Paleolítico ocorreu essencialmente na Galiza, ficando em Portugal reduzido a trabalhos pontuais e geograficamente circunscritos. A partir de 2010 assiste -se, igualmente na Galiza, ao desenvolvimento de um projecto de investigação que possibilitou não só a identificação de novos sítios arqueológicos, como também a sua datação absoluta, remetendo -os para o Plistocénico médio. A elaboração do projecto Miño- Minho, cujos primeiros resultados agora se apresentam, teve como principal objectivo dar continuidade na margem portuguesa a estes trabalhos iniciados no país vizinho.
O estudo das indústrias líticas recolhidas em três sítios do Plistocénico Superior – Ribeira da Ponte da Pedra, Santa Cita e Lagoa do Bando – localizados no centro de Portugal mostram uma diversidade de características. Algumas divergências podem estar relacionadas com a funcionalidade dos sítios, diferente posição no território, diferente gestão das matérias-primas e, claro, cronologia. Neste trabalho a estratégias tecnológicas são apresentadas e interpretadas em termos de escolhas técnicas em função de padrões de adaptação humana. Para além disso as afinidades tecnológicas e as divergências entre os três sítios serão discutidas.
No âmbito das Medidas de Minimização de Impacte Arqueológico, a empresa Neoépica, Lda. foi contratada para a realização de um conjunto de sondagens arqueológicas na empreitada do Campus Universitário de Carcavelos (Cascais). Implantado num terreno entre o Forte de S. Julião e a Quinta de S. Gonçalo, ali foram realizadas 10 Sondagens, por forma a fazer o diagnóstico do potencial arqueológico deste terreno. Em 3 destas sondagens, contíguas, foi identificado um depósito, de matriz aluvionar, com concentração de seixos quartzíticos in situ, assim como elementos basálticos, onde se recolheu o conjunto de artefactos de pedra talhada aqui estudado. Avulta o aproveitamento de seixos quartzíticos, onde predomina a exploração simples, uni e bifacial destes suportes, com a presença relevante da técnica levallois, que faz reportar, de forma global, ao Paleolítico Médio, o conjunto em apreço.
A importância do Guadiana para a compreensão do Paleolítico peninsular não tem acompanhado o aumento dos conhecimentos no território nacional. A inexistência de uma investigação sistemática e a predominância de ações de arqueologia preventiva, muitas das quais sem resultados publicados, ditaram a carência de dados relativos às ocupações plistocénicas na região. O presente trabalho tem em vista uma nova abordagem ao Paleolítico do Guadiana a partir de recolhas de materiais líticos efetuadas por Abel Viana em 1944 entre Pedrógão e Serpa. Os materiais líticos foram analisados à luz de metodologias atuais e confrontados com variáveis de análise territorial. Os resultados permitem não só identificar alguns pontos -chave para intervenções futuras como também valorizar o espólio do Museu Geológico.
Os trabalhos arqueológicos, empreendidos entre 1997 e 2010, nesta pequena cavidade do sistema cársico do rio Almonda (Torres Novas, Portugal), permitiram identificar a ocupação humana intermitente da cavidade durante o pleistocénico superior. Durante o Magdalenense o local terá funcionado como acampamento temporário especializado, provavelmente relacionado com apoio a actividades cinegéticas. A recolha de um fragmento de folha de loureiro documenta a ocupação humana do local durante o Solutrense. Os materiais líticos atribuíveis ao Moustierense, podem corresponder a escorrências provenientes de outras galerias, do mesmo sistema cársico. O estudo da fauna permitiu concluir que durante os períodos mais antigos o sítio serviu, igualmente, como covil de hiena e constatar o aumento de consumo de animais de pequeno porte, sobretudo coelho, durante o Tardiglaciar.
O sítio arqueológico de Vale Boi é uma das principais referências para a ocupação humana pré-histórica no sul da Península Ibérica. Escavado desde finais dos anos 90 tem revelado, nos vários loci intervencionados, uma estratigrafia relativamente complexa em que todos os tecno-complexos do Paleolítico Superior aparecem representados. Em 2012 iniciou-se a escavação de um novo conjunto de unidades na área do Terraço com o objectivo de compreender com maior detalhe a intrincada estratigrafia associada aos níveis mais antigos de ocupação de toda a jazida. Destes trabalhos, que contaram com uma metodologia minuciosa em que a proveniência de todos os artefactos com dimensões superiores a 2 cm foi registada com recurso a Estação Total, resultou um registo que permitiu isolar uma série de horizontes arqueológicos que até então não tinham sido diferenciados. Um destes horizontes foi datado radiometricamente de cerca de 20.3-20.8 ka BP, correspondendo, noutras regiões, sensivelmente ao inicio do tecno-complexo Solutrense. O conjunto artefactual proveniente deste horizonte não relevou, contudo, a presença de testemunhos do típico retoque invasor ou elementos bifaciais que caracterizam, em todo o Oeste Europeu, as adaptações humanas ao Último Máximo Glacial, mas sim um conjunto de elementos atribuíveis ao Proto-Solutrense. Neste poster apresentar-se-ão os resultados da análise dos materiais líticos deste horizonte arqueológico bem como a análise espacial 3D dos materiais nele contidos e a sua relação com o restante depósito.
Apesar da sua representação em coleções com uma grande dispersão cronológica e geográfica, as peças esquiroladas apresentam ainda uma série de problemas quanto à sua definição e análise. Os sistemas de classificação em Arqueologia, em especial artefactos líticos têm frequentemente como base conotações funcionais. No caso da tecnologia bipolar os artefactos são separados em dois grupos: peças esquiroladas e núcleos bipolares. Embora a sua distinção seja relativamente fácil, nem sempre as peças esquiroladas têm sido categorizadas como utensílios. Por exemplo, Zilhão (1997), contrariando os modelos oferecidos por Tixier (1963) e de la Peña (2011). Neste trabalho apresentamos uma reflexão sobre a definição e classificação de peças esquiroladas bem como dos atuais modelos de análise e interpretação no contexto da Pré-História.
Enquadrado no projeto de investigação EcoPLis – Ocupação Humana Plistocénica nos Ecótonos do Rio Lis, o Abrigo da Buraca da Moira situa-se no vale dos Murtórios (Leiria). O sítio corresponde a uma cavidade cársica seccionada por uma pedreira artesanal, com uma sequência com níveis holocénicos e plistocénicos bioturbados. Os níveis arqueológicos holocénicos, são principalmente caracterizados por abundantes materiais osteológicos humanos desarticulados, de pequenas dimensões, pertencentes a indivíduos adultos e não-adultos. Estes encontram-se, associados indústria lítica, bem como a adornos em concha, rocha e osso, mas a pouca cerâmica manual. No conjunto foram ainda identificadas uma ponta de Vale Comprido e uma ponta de Estilo Mediterrânico, congruentes com ocupações do Proto-Solutrense e do Solutrense, que se deverão encontrar nos níveis subjacentes. Neste trabalho apresenta-se o sítio e uma breve descrição dos conjuntos exumados, com particular destaque para aqueles recuperados do contexto holocénico.
O faseamento do Magdalenense definido no Sudoeste francês, estabelecido com base na tipologia da indústria em osso, tem vindo a ser adotado em Portugal (Zilhão 1997, Bicho 1997, Gameiro 2012). Relativamente à transição do Pleistoceno para o Holoceno, tem-se considerado que, apesar da existência de pontas azilenses, a ausência de indústria óssea em território nacional, bem como a inicialmente defendida continuidade tecnológica entre o Magdalenense e o Azilense franco-cantábricos, torna impossível a caracterização de um período azilense (Zilhão 1997). O estudo das indústrias líticas de sítios do Baixo Côa (Fariseu, Cardina, Quinta da Barca Sul) e a continuação dos estudos em França e no norte da Península Ibérica conduziram ao abandono da perspectiva de continuidade tipo-tecnológica entre o Magdalenense e o Azilense. As mudanças tecnológicas das indústrias do Vale do Côa, bem como as convenções morfotécnicas e temáticas das representações artísticas a elas associados, aproximam-se do faseamento identificado na região franco-cantábrica entre o fim do Tardiglaciar e o início do Holoceno.
Os concheiros de Muge e do Sado são exemplos da adaptação humana às zonas costeiras no Mesolítico associada à formação dos extensos estuários interiores do Tejo e do Sado durante o Holocénico inicial. Estes concheiros resultam de acumulações e manipulações de sedimentos primordialmente de origem antrópica e, como tal, são excelentes arquivos de ações humanas que deixam assinaturas sedimentares a nível microscópico. Estudos micromorfológicos do Cabeço da Amoreira (Muge) e das Poças de São Bento (Sado) comparam-se sob uma abordagem por microfácies sedimentares e revelam semelhanças significativas quanto aos processos antrópicos que controlaram a sua formação, como descarte, despejo ou renovação de superfícies de ocupação. Esta correlação amplia interpretações inter-regionais sobre as dinâmicas comportamentais dos últimos caçadores-recoletores do território português.
As mais recentes escavações realizadas no concheiro de Poças de São Bento, no vale do Sado, pela equipa do projecto SADO-MESO, permitiram a recolha e registo sistemáticos de uma grande quantidade de vestígios arqueológicos, nomeadamente de materiais líticos. Através da análise dos conjuntos de indústria lítica recolhidos durante as escavações da Sondagem 1, realizada entre 2010 e 2013, pretendeu-se comparar os resultados da caracterização tecno-tipológica com as informações provenientes de anteriores intervenções, assim como conjugar os mesmos com os dados tridimensionais registados em campo e proceder à avaliação, com apoio de software SIG, da distribuição espacial e estratigráfica dos vestígios líticos nas sequências observadas, procurando identificar padrões de utilização do espaço e processos de formação dos depósitos conquíferos.
Os contextos arqueológicos com ossos humanos apresentam desafios específicos relativos à interpretação dos processos culturais associados à sua deposição. É neste contexto que se desenvolve a arqueotanatologia, uma metodologia que integra conhecimentos de anatomia humana e teoria tafonómica. Contudo, o método foi desenvolvido para o contexto de escavação e a sua aplicação a documentação antiga pode ser problemática. Neste artigo, apresento os fundamentos da arqueotanatologia e a sua versatilidade para o estudo de coleções museológicas. Pretendo demonstrar, através de um caso de estudo, o potencial deste método para a reconstrução da cadeia operatória dos gestos funerários de populações do passado, cujos vestígios foram documentados em escavações arqueológicas há várias décadas atrás.
A investigação acerca dos modelos de ocupação das populações antigas durante o período que compreende, grosso modo, o Mesolítico e o Neolítico tem ganho novos contornos com a identificação de aglomerados de estruturas em negativo, cuja função no espaço ainda não está totalmente clarificada. Fossas, fornos ou silos? Esta questão, destacada recentemente (Diniz, 2013), merece agora uma nova reflexão após a identificação do sítio Barranco Horta do Almada 1, em Beja, ter fornecido um manancial de informação de excepção para o conhecimento destes contextos, no Sul de Portugal, que aqui se apresenta.
Tendo como base novas premissas e novos dados resultantes de projetos de investigação desenvolvidos para a Pré-história Recente, em diferente áreas do Norte de Portugal, as autoras revisitam as diferentes periodizações elaboradas para o período compreendido entre a segunda metade do 4º e os finais dos 3º milénios aC (os chamados Neolítico Médio/Final, Calcolítico e Bronze Antigo ou Inicial). A uma ampla escala de análise, reflete-se sobre as bases duma futura periodização conjunta para a região, destacando-se, na longa duração, continuidades e mudanças culturais.
O sítio da Moita do Ourives localiza-se na margem esquerda do Baixo Tejo, sobre um terraço quaternário. O quartzo e o quartzito ocorrem em abundância localmente, nos depósitos siliciclásticos da Bacia do Tejo. No sítio, estas matérias-primas foram exploradas de modo expedito, visando essencialmente a produção de lascas e utensílios sobre seixo. Até à data, desconhecem-se fontes de sílex na margem esquerda do Tejo, pelo que a presença desta matéria-prima indica abastecimento a média e longa distância, contribuindo assim para a compreensão dos espaços de circulação, economia e dinâmicas sociais das comunidades pré-históricas da região. Na Moita do Ourives, a análise de proveniências permitiu identificar silicificações do Cenomaniano superior provenientes de fontes situadas em posição secundária nos depósitos siliciclásticos da margem direita do rio Tejo. Foram ainda reconhecidas silicificações oxfordianas provenientes do vale do Rio Nabão, mais de 90 km para Norte, e jaspe, cuja ocorrência mais próxima se localiza na bacia do rio Sado, a Sul.
Apresentam-se as reflexões resultantes dos trabalhos de valorização das Mamoas 1 e 3 do Taco, Albergaria-a-Velha, realizados entre 2014 e 2015. Estes permitiram a obtenção de um conjunto de informações que levaram a uma nova leitura, particularmente em relação à Mamoa 3 do Taco. A investigação feita até ao momento aponta para que os anéis centrais, não serão contrafortes de câmaras megalíticas, mas sim estruturas relacionadas com a reutilização do espaço central do tumulus onde primitivamente pode ter estado uma câmara funerária, entretanto destruída. Este e outros dados sobre a arquitetura destes dois monumentos, indicia um regionalismo marcado por grandes tumuli, essencialmente construídos em terra e argila, alguns reutilizados no Calcolítico ou Idade do Bronze, com recintos líticos centrais associados a estruturas negativas ou estelas.
A anta da Casa da Moura é um dos escassos monumentos megalíticos registados no concelho de Soure. Descoberto no início dos anos noventa seria objecto de três campanhas de escavação efectuadas com o objectivo de contribuir para o conhecimento cronológico e cultural das práticas funerárias megalíticas no Maciço Calcário de Sicó (Serra do Rabaçal). Os dados compilados apontam para a existência de um monumento de planta poligonal alongada de corredor curto, com os esteios calcários fincados no substrato margoso, com indícios pouco significativos de mamoa. O espólio, em quantidade significativa, todavia escasso em exemplares cerâmicos e líticos, apresenta uma variedade relevante de restos osteológicos humanos.
A arqueologia aérea permite ao investigador observar o mundo através do espaço e entender a paisagem seja esta natural ou antrópica. Com base na compreensão do que é a arqueologia aérea, é aqui mostrado como os dólmens se apresentam nas imagens verticais. O objetivo do presente trabalho foi perceber de que modo este tipo de monumentos se insere no meio natural, quando vistos de cima, tendo como caso de estudo os concelhos de Mora e Arraiolos. Assim, por meio das imagens disponibilizadas através de softwares, como o Google Earth e o BING, foi aqui realizada a visualização destes. Sendo apresentada a fotointerpretação como um método de prospeção para a identificação de monumentos megalíticos em Portugal.
A Anta do Carrascal (Sintra), Monumento Nacional, foi alvo de um Projecto de Recuperação e Valorização desenvolvido pela Câmara Municipal de Sintra. Na sua vertente arqueológica, pretendeu -se principalmente esclarecer as características construtivas, caracterizar a mamoa e o corredor e escavar os alvéolos de modo a permitir a movimentação dos esteios. Foi possível reposicionar seis esteios, conformando uma planta mais próxima da original, e assinalar o perímetro do tumulus. Com as sondagens confirmou -se também que esta anta foi escavada no rególito do substrato calcário, cujas diaclases condicionaram a orientação do sepulcro. Foi ainda recolhido algum espólio osteológico e arqueológico inédito, incluindo um fragmento de xisto gravado. Finalmente, a Anta do Carrascal foi recuperada e pode agora ser usufruída pela população.
Tendo como objectivo estudar os crânios humanos e os seus ossos que evidenciassem práticas cirúrgicas ou de uso cultual, durante o Neolítico, efetuou -se o levantamento dos casos portugueses conhecidos, procedendo-se a estudo antropológico e respectivo enquadramento contextual, e enquadramento na Pré-História Europeia. O estudo pretende tratar os diferentes casos de uso dos ossos cranianos nas suas diversas variantes ou evidências de prática simbólica durante o período Neolítico de forma a proporcionar a construção de novas interpretações. Serão apresentados diferentes casos de trepanação, os discos e placas cranianas, assim como máscaras obtidas a partir dos ossos do rosto.
No presente texto apresentam -se, de forma preliminar, novos dados sobre a ocupação do Neolítico Antigo do sítio do Palácio dos Lumiares (Bairro Alto) resultantes de novas escavações (agora no Palácio Ludovice), assim como os dados relativos a um novo contexto com ocupações aparentemente contemporâneas localizado no Campo dos Mártires da Pátria (Palácio José Vaz de Carvalho).
A mineração de sílex durante o Neolítico e o Calcolítico foi um aspecto recorrente da Pré-História europeia, seja através de galerias subterrâneas ou da exploração de veios ao ar livre dessa rocha sedimentar. Conhecem-se vários locais na Europa onde se procedeu à extracção de sílex. No séc. XIX, trabalhos coordenados por Paul Choffat em obras realizadas durante o alargamento do túnel ferroviário do Rossio, em Campolide, descobriram-se duas galerias de mineração de sílex. Pesquisa realizada às colecções do Museu Geológico e outros arquivos, possibilitou uma melhor compreensão do que se descobriu em 1888, comparando o caso português com outros de igual período e semelhança a nível europeu. De amostras dos vários elementos líticos em depósito no referido museu e de outras provenientes de Monsanto efectuou-se análise petrográfica.
O trabalho que se apresenta integra o projecto de investigação Território e espaços de morte na Pré-História Recente. Contributo para uma nova leitura do povoamento megalítico no concelho de Avis. A recente identificação de locais com indícios de ocupação habitacional, permanente ou semipermanente, associados, de forma genérica, ao Neolítico Antigo abre uma nova perspectiva para o conhecimento das opções territoriais relacionadas com o povoamento pré-histórico. Com base nos dados disponíveis pretende-se apresentar uma primeira síntese interpretativa, suportada por uma avaliação preliminar desses resultados, contribuindo para uma leitura das estratégias de povoamento durante o Neolítico, em particular das etapas iniciais.
Neste trabalho apresentam -se os primeiros resultados do projecto de investigação “Vila Nova de São Pedro, de novo no 3º milénio”, da responsabilidade dos signatários, que procura, em diferentes vertentes, construir e divulgar um novo discurso para o sítio de Vila Nova de São Pedro, integrando -o nos debates acerca das paisagens sociais do Calcolítico, que se desenrolam nos inícios do 3º milénio, a partir da revisão de dados de campo, da síntese da informação já produzida e do desenvolvimento de linhas de investigação com recurso a metodologias de análise multidisciplinares.
Nos últimos anos, os modelos de povoamento desenhados para o calcolítico sofreram transformações profundas e o papel, distinto, que tem sido nos últimos tempos, atribuído aos grandes povoados fortificados exige a produção de informação, nova, acerca de territórios, recursos, mobilidades e identidades sociais que se pretendem construir para Vila Nova de São Pedro.
Em sondagens de avaliação realizadas no Cabeço da Ervideira (Alcobaça) foram encontrados vestígios de duas ocupações humanas. A mais recente enquadra -se na segunda metade do III milénio a.C. e traduz -se num piso associado a um conjunto artefactual com abundantes cerâmicas e líticos em bom estado de preservação. A mais antiga encontra -se pouco caracterizada, sendo possível que date do Neolítico final ou Calcolítico inicial. Foram também realizados estudos de arqueobotânica que atestaram o consumo de cereais e leguminosas e a exploração de diferentes ambientes para produção de alimentos e recolha de lenha.
Proceder ao estudo da indústria lítica do sítio arqueológico da Ota mostrou ser um desafio pela escassez de investigações que permitam proceder a comparações e o estabelecimento de paralelos. Esta escassez apresenta uma única excepção, o caso das pontas de seta, onde os estudos e tipologias são relativamente comuns e consensuais. É ainda de frisar a falta de apresentação dos valores em “bruto” (Sousa, 2010, p. 153), realidade que facilitaria uma reconstituição de técnicas de talhe. Posto isto, o presente trabalho tem como objectivo principal proceder a um ensaio inicial de padrões económicos, identificando, em simultâneo, as especificidades da ocupação e exploração do espaço da Ota.
A intervenção arqueológica realizada no recinto de fossos do Porto Torrão, durante o biénio de 2009 -2010, revelou várias centenas de estruturas negativas circulares (Santos et alii, 2015). No designado Sector 3 Este do Porto Torrão, as estruturas negativas tendencialmente circulares ultrapassaram a meia centena, tendo -se identificado diferentes tipologias, hipoteticamente relacionadas com diferentes utilizações desses espaços. Neste artigo pretende -se apresentar alguns exemplos destas estruturas, cujas características remetem para um eventual uso residencial. Esta hipótese interpretativa é alcançada através de um trabalho comparativo entre as estruturas supramencionadas, as designadas pithouses, e as inquestionáveis cabanas pré -históricas em positivo que são (re) conhecidas no SW Peninsular, revelando um aproveitamento semelhante entre soluções arquitectónicas distintas.
Este trabalho pretende abrir uma nova linha de investigação através do estudo das opções técnicas exercidas durante a manufactura de cerâmicas documentadas em contextos megalíticos. O estudo petrográfico de oito amostras de cerâmica provenientes de diferentes contextos do túmulo megalítico de Santa Rita revelou a utilização de argilas locais. Porém, é possível que a utilização destas matérias-primas não estivesse apenas determinada por constrangimentos geográficos, físicos ou materiais. Pelo contrário, o uso continuado de algumas argilas e o seu tratamento sugerem a existência de laços simbólicos que evocam a memória dos antepassados.
O presente trabalho estuda um conjunto de materiais em cerâmica, designados como componentes de tear, do sítio do Castelo de Pavia, Mora. Este sítio foi escavado por Vergílio Correia no início do século XX. Com este trabalho apresenta-se um estudo tipológico e tecnológico dos materiais para elaborar uma possível aproximação á sua funcionalidade. Os dados obtidos foram então enquadrados no panorama regional para poder comparar as suas dimensões e características com os parâmetros regionais. Os componentes de tear são artefactos cerâmicos bastantes característicos nos povoados calcolíticos no Sul da Península Ibérica, sendo um elemento de grande importância para o estudo das transformações agro-pastorís e artesanais que caracterizavam estas comunidades, sendo uma expressão visível nas transformações 3º milénio a.n.e.
A crescente visibilidade arqueológica da tecelagem, nos contextos calcolíticos da Península Ibérica, assenta principalmente no estudo dos componentes de tear elaborados em cerâmica. Contudo, a investigação de outras etapas e materiais associados à cadeia operatória desta actividade continua a ser diminuta. Neste trabalho pretendemos reflectir sobre as características morfológicas e tecnológicas dos cossoiros calcolíticos, procurando avaliar a sua adequação funcional à fiação. Esta análise tem como estudo de caso o conjunto de cossoiros identificado nas várias fases de ocupação do sítio de São Pedro (Redondo, Alentejo Central). Esperamos demonstrar o potencial tecnológico, económico, social e cultural da utilização de cossoiros, reforçando a importância do seu estudo para a reconstrução dos quotidianos das comunidades peninsulares no 3º milénio a.n.e.
Na sequência dos estudos que temos vindo a desenvolver em torno das diversas ocupações do IVº e IIIº milénio a.n.e documentadas no cabeço de São Pedro (Redondo), a componente lítica talhada tem sido um dos temas menos trabalhado. Por esta razão consideramos relevante analisar uma das categorias de artefactos líticos, mais largamente registada, as pontas de seta. Não obstante a longa diacronia de estudo das pontas de seta, estas continuam a ser insuficientemente conhecidas nos contextos habitacionais no Sudoeste peninsular. Deste modo, pretende -se realizar uma primeira abordagem tecno-tipológica sobre estes utensílios, enquadrando-os na diacronia de ocupação do sítio de São Pedro, procurando igualmente analisar a sua dispersão e eventual relação com as estruturas de fortificação registadas. As pontas de seta, sinais de confronto, mas igualmente sinais de subsistência, devem ser, então, entendidas na dinâmica das comunidades que habitaram o sítio de São Pedro ao longo de um milénio.
O presente artigo pretende analisar em termos quantitativos e qualitativos a indústria lítica dos monumentos tipo tholos do Baixo Alentejo Interior. Analisa -se a pedra lascada dos monumentos com material inventariado na década de 1950 nesta área pela equipa de Abel Viana e os Serviços Geológicos de Portugal, depositados no Museu Geológico e Museu Nacional de Arqueologia. Será ainda o estudo possível relativo à indústria lítica dos monumentos tipo tholos recentemente escavados e publicados, comparando analiticamente com os resultados dos monumentos anteriores.
O presente estudo resulta da compilação bibliográfica da fauna de origem aquática (invertebrados e peixes) encontrada em 39 sítios arqueológicos do atual território português. Os sítios examinados distribuem -se no período compreendido entre a segunda metade do 4º e o 3º milénio a.C. O conjunto da informação recolhida evidencia a utilização de uma grande diversidade de organismos aquáticos. Estes documentam principalmente a exploração de biótopos costeiros, e sugerem a existência de um litoral ainda pouco atingindo pela pressão antrópica. A síntese elaborada manifesta a importância dos métodos de recolha, e expõe a relevância das Colecções de Referência e dos critérios morfológicos na identificação de espécies aquáticas.
A intervenção arqueológica realizada no recinto de fossos de Montoito 2, do período calcolítico, forneceu um conjunto de fauna vertebrada, principalmente mamíferos, mas também aves, que foi estudada. O conjunto encontrava -se em bom estado de preservação e forneceu uma lista taxonómica variada onde se registou uma maioria de porcos (género Sus sp.), mas também veados, bovinos, principalmente domésticos, ovino/caprinos, equinos e canídeo. A esta lista juntam -se restos de um corvídeo que através da morfologia e osteometria foi classificado como gralha preta/gralha calva (Corvus corone/frugilegus). Embora constituindo uma colecção pouco numerosa, o seu estudo revela -se de grande importância porquanto constitui mais um ponto no mapa dos sítios calcolíticos do Sul de Portugal com fauna estudada.
A gruta da Lapa da Mouração foi identificada nos inícios do século XX por António Santos Rocha. Nas recolhas de superfície efectuadas, foram recuperados inúmeros artefactos arqueológicos do Neolítico/Calcolítico e de época Romana. Dessas recolhas fazem igualmente parte os elementos faunísticos que aqui são apresentados. A fauna mamalógica revelou a presença de espécies domésticas (Bos sp., Ovis aries, Capra hircus e Sus domesticus) e selvagens (Sus scrofa, Cervus elaphus, Oryctolagus cuniculus e Capreolus capreolus). Desta gruta provém ainda fauna malacológica exclusivamente de origem marinha (Ruditapes decussatus, Pecten maximus, Mytilus edulis, Ostrea edulis, Cerastoderma edule, Pollicipes pollicipes, Balanus balanus, Patella candei), utilizados para consumo humano.
São apresentados neste trabalho os resultados do estudo de quatro sondagens recolhidas na margem Norte do Tejo. A análise destes sedimentos permite reconstruir a paisagem e compreender a evolução paleoambiental da margem antes da construção dos grandes aterros. A sua interpretação permitiu concluir que: a sedimentação na zona subtidal mais proximal à margem se inicia durante a ocupação da Idade do Ferro em Lisboa; a resposta a eventos de alta energia fica registada na coluna sedimentar através da presença de elementos alóctones ao sedimento local; para o topo do enchimento os sedimentos enriquecem em elementos antrópicos. Estes sedimentos mostram uma evolução natural entre uma área subtidal com mais influência marinha e uma área intertidal com mais influência fluvial e antrópica.
Até ao momento não existe nenhum estudo intensivo de recolha de dados geográficos e arqueológicos que nos permita compreender os padrões geográficos e temporais da utilização das grutas durante a Pré -História em Portugal. O presente artigo pretende ser uma primeira abordagem a esta problemática, apresentando os resultados preliminares de um projeto que tem como objetivo o levantamento detalhado das características naturais de cada uma das cavidades arqueológicas atualmente conhecidas nas áreas do Maciço Estremenho, Serra de Montejunto e Barrocal Algarvio. A compilação dos dados numa base de dados SIG inédita, em paralelo com a incorporação de análises estatísticas e espaciais, permitirá estabelecer novos paradigmas para a ocupação e exploração do território por parte das comunidades humanas durante a Pré -História.