Em Portugal, nas últimas décadas, o grupo profissional dos arqueólogos tem vivido um extraordinário aumento de dimensão, bem como diversas alte-rações no que se refere à sua estrutura, constituição e balanço social. Estas mu-danças relacionam -se de perto com a evolução sociológica portuguesa e com o caminho do país rumo ao desenvolvimento e à vanguarda civilizacional. Neste artigo será abordada a evolução do grupo de pessoas que em Portugal se dedicam à prática da actividade arqueológica, durante todo o século XX e até à actualidade. Quantos são, quem são, qual a sua formação académica, distribui-ção etária e de género, origem geográfica e forma de exercício da actividade (do amadorismo à profissionalização) serão alguns dos aspectos abordados.
No presente estudo actualizam- se os dados relativos ao desempenho quantitativo da actividade arqueológica em território nacional, ao longo das últimas duas décadas, documentando a oscilação dos valores referentes às acções, desenvolvidas no âmbito das diferentes categorias de trabalho arque-ológico. Nesta súmula constata -se que existiram eventos importantes, como sejam, a adequação legislativa, a alteração da tutela arqueológica, a crise eco-nómica de 2008, que se revelaram determinantes no desenvolvimento da di-nâmica arqueológica nacional. Num momento em que se abordam politica-mente questões relacionadas com a descentralização das competências na área da cultura, pareceu -nos pertinente reflectir sobre os números e sobre a longa diacronia evolutiva que estes documentam.
O autor tem realizado trabalhos no âmbito da arqueologia ao longo de cer-ca de 5 décadas, e basicamente a dois níveis: 1. investigação aplicada (após uma fase inicial de trabalhos sobre Paleolítico do Sul de Portugal, e também em An-gola, pesquisas sobretudo desde 1975 no âmbito do megalitismo e dos recintos murados do Norte de Portugal) e 2. investigação fundamental, ou de reflexão teórica, sobre a pertinência da rede de conceitos que subjazem, em particular, à organização narrativa da chamada “pré -história”. Esta comunicação pretende ser um balanço sucinto desse trajeto de problematização, que teve de se ajus-tar, em cada fase, aos elementos empíricos com que, como arqueólogo, o autor, integrado em equipas, foi sendo confrontado.
A emergência da “Nova Arqueologia” originou importantes mudanças de paradigma no campo da Arqueologia, da segunda metade do século XX. De facto, as obras de Sally e Lewis Binford e David Clarke, simbolicamente, inauguram uma nova etapa, de corte efectivo com as práticas da Arqueologia Histórico -Cultural, nova etapa onde se pretende criar através de novos meca-nismos epistemológicos, um novo Passado, construído à imagem das ciências exactas e da natureza. Neste trabalho, pretende -se abordar a introdução da Arqueologia Processual, ou “Nova Arqueologia”, na Arqueologia portuguesa, entre 1968 e 2000, através de uma análise bibliométrica a publicações periódi-cas, que permita detectar a evolução/transformação, teórica e metodológica, na prática e pensamento arqueológicos, assim como a sua relação com as pro-fundas transformações que a sociedade portuguesa atravessa nesse período.
No decorrer do século XIX, vários indivíduos formados em Medicina dedicaram -se, com maior ou menor relevo, à Arqueologia, à Epigrafia e à defe-sa do património. Neste trabalho propomo -nos abordar o contributo de Fran-cisco António Rodrigues de Gusmão. Estudante em Coimbra, estudou vários monumentos desta cidade. Décadas depois pertenceu à equipa do Instituto de Coimbra que respondeu ao questionário da Comissão dos Monumentos Na-cionais. Médico em Portalegre, visitou o monumento de Santa Maria da Flor da Rosa, estudou as ruínas de São Salvador de Aramenha e analisou monu-mentos em Portalegre. Nos seus estudos atribuiu alguma importância aos mo-numentos epigráficos, enquanto fontes históricas. Defendeu a preservação do património, criticando os destruidores do passado e amaldiçoando os possí-veis demolidores do futuro.
As investigações sobre grutas artificiais ocorreram em Portugal desde muito cedo. As diversas teorias geradas em torno deste fenómeno evoluíram acompanhando o crescimento e evolução dos dados de campo até certo ponto. Actualmente em Portugal, o universo hipogeico é muito diversificado, princi-palmente na área Alentejana. A falta de publicações actualizadas sobre as des-cobertas dificulta uma leitura à escala regional e uma possível comparação à escala global. Dá -se aqui a conhecer uma nova e praticamente desconhecida realidade hipogeica portuguesa.
Ausente dos principais circuitos de produção, transmissão e recepção de conhecimento arqueológico, Eduardo da Cunha Serrão (1906- 1991) é essen-cial na formação de um conjunto de jovens liceais e universitários aos quais competiria definir e reorientar a política patrimonial no país já em plena demo-cracia. Insistindo na actualização permanente de conhecimento e na adopção das mais recentes técnicas de escavação geradas, na sua maioria, em contexto britânico, E. da Cunha Serrão apela à interdisciplinaridade e colaboração insti-tucional, assumindo- se como expoente de uma ‘geração em trânsito’ determi-nante para o futuro da arqueologia em Portugal. Particularidades exploradas no texto a partir de uma sua interrogação eivada de aparente contradição.