Arqueologia em Portugal: 2017 - Estado da Questão

1. Historiografia

 

ARQUEÓLOGOS PORTUGUESES
Jacinta Bugalhão

Em Portugal, nas últimas décadas, o grupo profissional dos arqueólogos tem vivido um extraordinário aumento de dimensão, bem como diversas alte-rações no que se refere à sua estrutura, constituição e balanço social. Estas mu-danças relacionam -se de perto com a evolução sociológica portuguesa e com o caminho do país rumo ao desenvolvimento e à vanguarda civilizacional. Neste artigo será abordada a evolução do grupo de pessoas que em Portugal se dedicam à prática da actividade arqueológica, durante todo o século XX e até à actualidade. Quantos são, quem são, qual a sua formação académica, distribui-ção etária e de género, origem geográfica e forma de exercício da actividade (do amadorismo à profissionalização) serão alguns dos aspectos abordados.

 

2. A ARQUEOLOGIA NACIONAL: VALORES DE REFERÊNCIA
Gertrudes Branco

No presente estudo actualizam- se os dados relativos ao desempenho quantitativo da actividade arqueológica em território nacional, ao longo das últimas duas décadas, documentando a oscilação dos valores referentes às acções, desenvolvidas no âmbito das diferentes categorias de trabalho arque-ológico. Nesta súmula constata -se que existiram eventos importantes, como sejam, a adequação legislativa, a alteração da tutela arqueológica, a crise eco-nómica de 2008, que se revelaram determinantes no desenvolvimento da di-nâmica arqueológica nacional. Num momento em que se abordam politica-mente questões relacionadas com a descentralização das competências na área da cultura, pareceu -nos pertinente reflectir sobre os números e sobre a longa diacronia evolutiva que estes documentam.

 

3. DE CHÃO DE MINAS (LOURES) A CASTANHEIRO DO VENTO (VILA NOVA DE FOZ CÔA): BREVE BALANÇO DE UM CICLO DE VIDA EM ESTUDOS PRÉ-HISTÓRICOS
Vítor Oliveira Jorge

O autor tem realizado trabalhos no âmbito da arqueologia ao longo de cer-ca de 5 décadas, e basicamente a dois níveis: 1. investigação aplicada (após uma fase inicial de trabalhos sobre Paleolítico do Sul de Portugal, e também em An-gola, pesquisas sobretudo desde 1975 no âmbito do megalitismo e dos recintos murados do Norte de Portugal) e 2. investigação fundamental, ou de reflexão teórica, sobre a pertinência da rede de conceitos que subjazem, em particular, à organização narrativa da chamada “pré -história”. Esta comunicação pretende ser um balanço sucinto desse trajeto de problematização, que teve de se ajus-tar, em cada fase, aos elementos empíricos com que, como arqueólogo, o autor, integrado em equipas, foi sendo confrontado.

 

4. A EMERGÊNCIA DA ARQUEOLOGIA PROCESSUAL EM PORTUGAL: A TEORIA E O MÉTODO
(1968-2000). UMA INTRODUÇÃO

Daniel Carvalho / Mariana Diniz

A emergência da “Nova Arqueologia” originou importantes mudanças de paradigma no campo da Arqueologia, da segunda metade do século XX. De facto, as obras de Sally e Lewis Binford e David Clarke, simbolicamente, inauguram uma nova etapa, de corte efectivo com as práticas da Arqueologia Histórico -Cultural, nova etapa onde se pretende criar através de novos meca-nismos epistemológicos, um novo Passado, construído à imagem das ciências exactas e da natureza. Neste trabalho, pretende -se abordar a introdução da Arqueologia Processual, ou “Nova Arqueologia”, na Arqueologia portuguesa, entre 1968 e 2000, através de uma análise bibliométrica a publicações periódi-cas, que permita detectar a evolução/transformação, teórica e metodológica, na prática e pensamento arqueológicos, assim como a sua relação com as pro-fundas transformações que a sociedade portuguesa atravessa nesse período.

 

5. FRANCISCO ANTÓNIO RODRIGUES DE GUSMÃO: A ARQUEOLOGIA, A EPIGRAFIA
E O PATRIMÓNIO 

Pedro Marques

No decorrer do século XIX, vários indivíduos formados em Medicina dedicaram -se, com maior ou menor relevo, à Arqueologia, à Epigrafia e à defe-sa do património. Neste trabalho propomo -nos abordar o contributo de Fran-cisco António Rodrigues de Gusmão. Estudante em Coimbra, estudou vários monumentos desta cidade. Décadas depois pertenceu à equipa do Instituto de Coimbra que respondeu ao questionário da Comissão dos Monumentos Na-cionais. Médico em Portalegre, visitou o monumento de Santa Maria da Flor da Rosa, estudou as ruínas de São Salvador de Aramenha e analisou monu-mentos em Portalegre. Nos seus estudos atribuiu alguma importância aos mo-numentos epigráficos, enquanto fontes históricas. Defendeu a preservação do património, criticando os destruidores do passado e amaldiçoando os possí-veis demolidores do futuro.

 

6. HISTÓRIA DAS INVESTIGAÇÕES DOS HIPOGEUS EM PORTUGAL
Cátia Saque Delicado

As investigações sobre grutas artificiais ocorreram em Portugal desde muito cedo. As diversas teorias geradas em torno deste fenómeno evoluíram acompanhando o crescimento e evolução dos dados de campo até certo ponto. Actualmente em Portugal, o universo hipogeico é muito diversificado, princi-palmente na área Alentejana. A falta de publicações actualizadas sobre as des-cobertas dificulta uma leitura à escala regional e uma possível comparação à escala global. Dá -se aqui a conhecer uma nova e praticamente desconhecida realidade hipogeica portuguesa.

 

7. «PORQUE HAVEMOS DE DEIXAR NAS MÃOS DE ESPECIALISTAS ESTRANGEIROS PERSPECTIVAS QUE TANTO NOS DIZEM RESPEITO?». A COLABORAÇÃO ARQUEOLÓGICA INTERNACIONAL NO PORTUGAL DOS ANOS 50-60 DO SÉCULO XX: TRADIÇÕES, INOVAÇÕES E CONTRADIÇÕES
Ana Cristina Martins

Ausente dos principais circuitos de produção, transmissão e recepção de conhecimento arqueológico, Eduardo da Cunha Serrão (1906- 1991) é essen-cial na formação de um conjunto de jovens liceais e universitários aos quais competiria definir e reorientar a política patrimonial no país já em plena demo-cracia. Insistindo na actualização permanente de conhecimento e na adopção das mais recentes técnicas de escavação geradas, na sua maioria, em contexto britânico, E. da Cunha Serrão apela à interdisciplinaridade e colaboração insti-tucional, assumindo- se como expoente de uma ‘geração em trânsito’ determi-nante para o futuro da arqueologia em Portugal. Particularidades exploradas no texto a partir de uma sua interrogação eivada de aparente contradição.