A mediação cultural é muito importante, nomeadamente ao nível local, digamos, autárquico. É um tópico democrático fundamental. Porque, se o que hoje designamos “cultura” é uma realidade abrangente, que arrasta atrás de si todos os valores, o mediador é a pessoa que faz a ponte entre certo conhecimento e aqueles que o procuram obter. É uma questão de transmissão viva, entre pessoas, de experiência adquirida. Não se trata só de descodificar saberes, mas sobretudo de “educar” no seu sentido mais profundo, inculcando nas pessoas o gosto, prazer e hábito do conhecimento, nomeadamente do relativo aos valores geograficamente próximos. Esta comunicação procura refletir sobre essa experiência no âmbito da arqueologia, da história e do património local.
O modelo sobre o qual a arqueologia cresceu, em Portugal e em alguns outros países, nas últimas duas décadas, foi alimentado por um afluxo de verbas essencialmente orientado para a preservação e valorização patrimonial, com crescente desinteresse pela pesquisa. O ocaso da arqueologia comercial cruza-se com o estrangulamento das bases institucionais da pesquisa: ensino superior, museus, centros de pesquisa e associações. Propõe-se uma agenda para repensar e relembrar para que pode servir a arqueologia, para além do apoio à gestão patrimonial: a dimensão temporal, os métodos de reconstrução espacial, a integração entre geociências e humanidades, a orientação para a cultura material, a inserção de jovens na praxis da ciência…
No decorrer do desenvolvimento da Carta Arqueológica da Caldas da Rainha (CARACA), com o intuito de sensibilizar a população para a importância do património arqueológico, foi desenvolvido um ciclo de palestras sobretudo dirigida à classe sénior. Como objetivos pretendia-se compreender qual a ligação da população, desta faixa etária, com o património da região, seu reconhecimento e entendimento, bem como registar, pela realização de inquéritos orais, a possibilidade de novos indícios de vestígios arqueológicos. Os resultados obtidos foram tratados estatisticamente, permitindo uma análise do envolvimento da população na componente cultural do concelho, reconhecimento da sua história e da compreensão da sua importância como identidade e fator de pertença, bem como a identificação de mais de dez possíveis novos locais arqueológicos, desconhecidos da comunidade arqueológica. Este tipo de intervenção, junto da sociedade, revela-se uma ferramenta de pesquisa bastante produtiva e de educação patrimonial absolutamente eficaz, garantindo uma salvaguarda e registo do património mais eficiente.
Consideramos que os vestígios arqueológicos podem ser entendidos como dispositivos mnemónicos que estruturam as memórias das comunidades locais, os seus costumes e práticas. Este artigo analisa o modo como os vestígios arqueológicos foram interpretados por diferentes comunidades, ao longo da Época Moderna e Contemporânea, em Portugal. Procura-se estudar o contributo da documentação histórica, assim como de algumas publicações do século XIX/XX, para o conhecimento dos vestígios arqueológicos e da tradição oral.
Os trabalhos de acompanhamento arqueológico têm vindo a assumir nas últimas duas décadas uma inequívoca importância na arqueologia portuguesa, tanto pelo crescente número de profissionais que ocupam, como pelo volume de dados que a sua realização disponibiliza. Face à constatação do desfasamento entre a lei vigente e a dinâmica social, económica e cultural que enquadra este tipo de actividade, sustentada por um enquadramento legal lacunar e insuficiente, sugerem-se algumas medidas regulamentares susceptíveis de estimular uma relação mais equilibrada entre desenvolvimento urbano e património cultural.
Em Portugal, o acompanhamento arqueológico (AA) é reconhecido como importante estratégia na Arqueologia Preventiva, tendo sido introduzido em meados da década de 1990. Apenas recebeu, porém, menção explícita no Regulamento de Trabalhos Arqueológicos, no DL 164/2014, de 4 de novembro. Assuma-se que todo o progresso está para lá das margens de conforto. Atendendo a tal realidade e a esta convicção, e considerando o contexto intersectorial dos AA, assume-se também o desconfortável objetivo de trazer ao debate o seu (ainda lacunar) enquadramento legal. Desconforto lançado com uma rendição: a apresentação de proposta de método para os acompanhamentos, contribuindo assim para colmatar tal lacuna legal e, principalmente, para os dignificar por meio da promoção de uma maior eficácia e paridade de procedimentos.
A AIA de 1997 para a construção do Metro do Porto diagnosticou sensibilidade arqueológica à Avenida dos Aliados, onde se construiu uma estação. A razão estava no rasgo da avenida pela demolição de tecido urbano abrangendo o Bairro do Laranjal, projetado pelos Almadas no séc. XVIII. A mitigação arqueológica – sondagens prévias e acompanhamento arqueológico da obra – pouco mais acrescentou ao conhecido: indícios de urbanização anterior, também do séc. XVIII. Mas, quanto ao Bairro, representado na cartografia oitocentista e abordado pela Historiografia Portuense de finais do séc. XX, permitirá aproximação às preocupações urbanísticas dos Almadas e estética do Bairro. Apresentando tais resultados, também pretendemos contribuir para o fomento de reflexão sobre as diferentes estratégias de atuação da Arqueologia Preventiva em Portugal.
Nas últimas décadas, a actividade arqueológica em Portugal tem assistido a um aumento significativo, principalmente como resultado do desenvolvimento económico e o incremento público e privado em obras de construção. O número crescente de escavações arqueológicas, motivados por intervenções de minimização e de salvaguarda, correspondeu a um desinvestimento em projectos plurianuais de pesquisa arqueológicos. Não é incomum que, por questões de segurança, escavações arqueológicas realizadas em contexto do trabalho não oferecem as condições ideais para estarem abertas ao público, interessado em conhecer o trabalho dos arqueólogos. Na mesma maneira, as evidências mostram que o conhecimento adquirido nestes trabalhos permanece nos relatórios técnicos e científicos, mal adequado para a divulgação do conhecimento entre o público interessado. Outra questão importante está relacionada com a gestão do grande volume dos activos colectados durante as intervenções arqueológicas, que entra em conflito com a falta ou a carência de museus e locais dedicados à sua exposição. Estes são mantidos sob a posse dos directores das escavações ou em depósitos governamentais, inacessíveis à fruição pública e ao conhecimento.