Arqueologia em Portugal: 2017 - Estado da Questão

9. Época Moderna

 

121. A COZINHA E A MESA A BORDO DA FRAGATA PORTUGUESA SANTO ANTÓNIO DE TANÁ (MOMBAÇA, 1697): ESTUDO DE OBJECTOS METÁLICOS E EM MADEIRA
Inês Pinto Coelho / Patrícia Carvalho / André Teixeira

Em 1697, a fragata Santo António de Taná partiu de Goa para Mombaça, cercada há meses pelos omanitas, acabando por naufragar junto à fortaleza da cidade. Entre 1976 e 1980, o Institute of Nautical Archaeology (INA) e o National Museum of Kenya realizaram escavações nos destroços, identificando parte significativa do casco e mais de 7000 objectos relacionados com o funcionamento, a vida a bordo e a actividade comercial do navio. O CHAM associou -se ao projecto em 2012, visando a publicação integral dos vestígios. Neste artigo estudam -se os materiais em liga de estanho, de cobre e em madeira relacionados com a cozinha e a alimentação a bordo, testemunho do quotidiano das embarcações portuguesas da expansão além -mar, particularmente no antigo Estado da Índia.

 

122. RESULTADOS PRELIMINARES DA PRIMEIRA CAMPANHA DA MISSÃO ARQUEOLÓGICA PORTUGUESA EM SHARJAH (EAU). ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA EM QUELBA/KALBA
Mário Varela Gomes / Rosa Varela Gomes / Rui Carita / Kamyar Daryoush Kamyab

Decorreu, na primeira quinzena de Janeiro de 2017, escavação arqueológica no local da antiga fortaleza de Quelba/Kalba (Sharjah, EAU), onde os portugueses estiveram a partir de 1624, sobre a qual existem referências literárias e desenhos das suas estruturas. Na actualidade aquela encontrava-se totalmente desaparecida, dado que terá sido propositadamente arrasada e os seus restos cobertos por areias. A nossa intervenção pôs a descoberto o lado nascente de tal estrutura, um poço existente no seu interior e, no exterior, pavimentos, buracos de poste e tina, assim como artefactos atribuíveis a período compreendido entre finais do século XVI e o século XVIII. Entre estes conta-se numisma persa, fragmentos de cerâmica com aquela mesma procedência, outros de origem regional, assim como de porcelanas chinesas, um dos quais com inscrição em árabe. Também se exumaram testemunhos de fauna a par de restos vegetais incarbonizados.

 

123. NOVOS DADOS ACERCA DAS FORMAS DE PÃO ‑DE ‑AÇÚCAR: O CASO DO ESTUDO DAS FORMAS DESCOBERTAS NA RUA AFONSO DE ALBUQUERQUE, PENICHE (CENTRO DE PORTUGAL)
Adriano Constantino

A presença das formas de pão -de -açúcar no concelho de Peniche era apenas conhecida na Berlenga até à sua descoberta em trabalhos arqueológicos realizados em 2012 na Rua Afonso de Albuquerque na cidade de Peniche. O conjunto de vários fragmentos de várias tipologias e de pastas diferentes sugere várias produções levantando várias problemáticas, origem da sua produção, o transporte marítimo e as rotas associadas como destino final destes recipientes.

 

124. A ALA NASCENTE DO CLAUSTRO DO CONVENTO DE JESUS DE SETÚBAL: RESULTADOS DA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA DE 2015/2016
Nathalie Antunes -Ferreira / Maria João Cândido

Em 2015/16 foi realizada uma intervenção arqueológica de carácter preventivo na ala nascente do claustro do Convento de Jesus, em Setúbal, motivada pela obra de repavimentação das alas à cota original do Piso Primitivo do século XV. A ala funcionou como espaço sepulcral das clarissas, identificando-se 26 lajes rectangulares e colocando -se a descoberto 13 inumações primárias e numerosos ossos desarticulados de indivíduos adultos do sexo feminino. As inumações seguiram os preceitos cristãos, identificando -se, porém, duas deposições atípicas. No espólio votivo destacam -se as armações de ferro à volta do crânio. Tal como nas intervenções anteriores foram identificados os aterros de 1772 sobre o Piso Primitivo. Este piso encontrava -se em mau estado, tendo sido truncado e/ou removido aquando da feitura das sepulturas.

 

125. OS BENS TERRENOS DA IGREJA DA MISERICÓRDIA (ALMADA) – SÉCULOS (XVI ‑XVIII)
Vanessa Dias / Tânia Manuel Casimiro / Joana Gonçalves

As escavações arqueológicas na Igreja da Misericórdia de Almada remontam aos inícios dos anos 80 do passado século, tendo sido novamente intervencionada em 2013. Diversas sepulturas foram postas a descoberto, algumas das quais com a possibilidade de identificação da pessoa ou família ali inumada, devido à sobrevivência da pedra tumular que cobria a sepultura, onde o nome se encontrava inscrito. Associado aos restos osteológicos (já estudados), diverso espólio foi recuperado, permitindo concluir acerca do estatuto social de muitos dos indivíduos ali depositados. Cronologicamente os enterramentos e utilização do espaço sepulcral podem ser balizados entre os séculos XVI e XVIII.

 

126. CERÂMICAS QUINHENTISTAS VIDRADAS DE UM POÇO MEDIEVAL DA PRAÇA DA FIGUEIRA (LISBOA)
Ana Isabel Barradas / Rodrigo Banha da Silva

O Hospital Real de Todos -Os -Santos é tema de frequente publicação e investigações em múltiplas vertentes, destacando -se -lhe a relevância histórica, o papel chave para a evolução das práticas médico -terapêuticas portuguesas da Época da Expansão, mas também as estruturas e materiais arqueológicos recuperados em sucessivas ocasiões, entre 1960 e 2001. No presente estudo abordou -se um conjunto seleccionado de cerâmicas recolhidas num contexto fechado datado da Época Moderna, equivalente ao enchimento de um poço ovalado medieval das «Hortas de S.Domingos», depois integrado no tardóz do Hospital. O estudo aborda as cerâmicas vidradas de origem regional, as suas respectivas evidências de produção, e são também abordadas as produções portuguesas como as “faianças”. No que respeita às produções forâneas assinala-se a ocorrência de majólica italiana e de variadas elaborações sevilhanas.

 

127. O SÍTIO DOS LAGARES (LISBOA): UM ESPAÇO PLURICULTU(R)AL
Mónica Ponce / Filipe Oliveira / Tiago Nunes / Marina Pinto / Marina Lourenço

Na sequência dos trabalhos de reabilitação do imóvel 74, situado na Rua dos Lagares, foram identificados e intervencionados contextos arqueológicos preservados que retratam a ocupação do local entre finais do séc. XV e séc. XVIII (período Baixo -Medieval/Moderno). Distinguem -se duas fases de ocupação do espaço enquanto necrópole, uma islâmica (posterior ao final do século XV), e uma judaica (vandalizada em 1497). Ambas as fases são seladas/intercaladas por níveis de descarte das unidades de produção oleira concentradas no Largo das Olarias. O estudo do espólio cerâmico possibilitou a datação ante quem/post quem das realidades intervencionadas, figurando uma colecção excepcionalmente representativa do intervalo cronológico apresentado.

 

128. UMA OLARIA NA RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO (LISBOA) – SÉCULOS XV E XVI
Guilherme Cardoso / Luísa Batalha / Paulo Rebelo / Miguel Rocha / Nuno Neto / Sara Brito

Durante uma intervenção arqueológica efectuada na Rua das Portas de Santo Antão, no antigo Palácio da Anunciada, foram identificados três fornos de cerâmica, associados às respectivas estruturas de apoio. Trata-se de vestígios de uma olaria que terá funcionado naquele sítio nos inícios da época Moderna, produzindo formas de pão-de-açúcar, ladrilhos para atapetar os pisos das habitações e utensílios de uso doméstico de barro vermelho fosco, utilizando argilas dos Prazeres.

 

129. EVIDÊNCIAS DE PRODUÇÃO OLEIRA NOS SÉCULOS XVI E XVII NO LARGO DAS OLARIAS, MOURARIA (LISBOA)
Anabela Castro / Nuno Amaral de Paula / Joana Bento Torres / Tiago Curado / André Teixeira

Em trabalhos de arqueologia preventiva no Largo das Olarias nos 19 -23 e Travessa do Jordão nos 1 -15, na Mouraria de Lisboa, foram detectados quatro fornos, atestando a produção oleira entre os séculos XVI e XVII. Todos foram fabricados com tijolos e possuíam duas câmaras, separadas por grelhas assentes em arcos. No seu interior foi recolhido um vasto manancial de materiais cerâmicos, incluindo suportes e desperdícios da produção, tanto de faiança como de cerâmica de barro vermelho sem vidrado, surgindo escassas peças revestidas com vidrados plumbíferos. Este trabalho pretende acrescentar dados sobre a história da produção oleira de Lisboa durante a época moderna, um tema que carece de aprofundamento face à raridade dos contextos de produção como os que agora se publicam preliminarmente.

 

130. OS SILOS DO PALÁCIO DE SANTA HELENA (LISBOA)
Luísa Batalha / Nuno Neto / Pedro Peça / Sara Brito / Guilherme Cardoso

Durante os trabalhos arqueológicos realizados pela empresa Neoépica, a sul do mosteiro de São Vicente de Fora, no Largo do Sequeira, sob o antigo palácio de Santa Helena, foram identificados antigos vestígios da anterior ocupação daquele espaço sobranceiro à Alfama. Um dos achados mais significativos é um conjunto de silos de grandes dimensões que foram abertos no subsolo do Miocénico durante a Baixa Idade Média. Do interior dos silos foi exumado um conjunto de peças de cerâmica que devido ao seu estado de conservação mereceu a especial atenção pela relevância do achado.

 

131. ESTRUTURAS PRÉ ‑POMBALINAS E ESPÓLIO ASSOCIADO NO PÁTIO JOSÉ PEDREIRA (RUA DO RECOLHIMENTO E BECO DO LEÃO, FREGUESIA SANTA MARIA MAIOR)
Anabela Joaquinito

No Pátio José Pedreira, as estruturas arquitetónicas associadas aos atuais edifícios revelaram o que sobreviveu de edifícios quinhentistas e que inclui uma porta com cantaria, duas calçadas, paredes em taipa, elementos decorativos em estuque, uma conduta e um pavimento em tijoleira, em excelente estado de conservação. As áreas habitacionais foram aterradas, com um espólio conotado com as funções quotidianas, de cronologia dos séculos XVI e XVII. A intervenção arqueológica permitiu também identificar uma contínua ocupação do espaço, que inclui cronologias da Idade do Ferro, Romana, de período Islâmico, medieval cristão e moderno, e recolher um espólio com mais de 28 000 fragmentos inventariados, e que ainda se encontra em fase de estudo.

 

132. POLICROMIAS E PADRÕES: AZULEJOS “DE ARESTA” E “DE CORDA ‑SECA” DO PALÁCIO DOS CONDES DE PENAFIEL, LISBOA (SÉCULOS XV ‑XVI)
André Bargão / Sara Ferreira / Rodrigo Banha da Silva

Uma intervenção arqueológica municipal teve lugar entre 1992 e 1993 nos jardins do palácio dos Condes de Penafiel, em Lisboa. Nela se exumaram restos de duas unidades habitacionais dos inícios da Época Moderna, depois sacrificadas pela urbanística que se seguiu a 1755, para as quais a documentação manuscrita permitiu identificar os seus proprietários cerca de 1524. O conjunto de azulejo hispano -mourisco exumado ali, um dos mais numerosos até agora recolhidos na cidade, é constituído quase em exclusivo por azulejo do tipo “aresta”, sendo relacionável com a decoração dos pisos superiores. Trata -se, com probabilidade, de uma encomenda que teve lugar nos finais da década de 1520 ou na seguinte, que os autores atribuem às oficinas de Triana (Sevilha) de de Juan e/ou Diego Polido.

 

133. O CONTEXTO DO POÇO DO CLAUSTRO SO DO HOSPITAL REAL DE TODOS ‑OS ‑SANTOS: OS CONTENTORES PARA LÍQUIDOS
Rita Neves Silva / Rodrigo Banha da Silva

Na intervenção arqueológica da Praça da Figueira, realizada entre 1999 e 2001, exumaram-se contextos relacionados com o Hospital Real de Todos-Os -Santos, o primeiro grande complexo de saúde e assistencial central de Portugal. No espaço do pátio do Claustro SO do edifício foi revelado um poço circular, preenchido com unidades estratigráficas de abandono relacionáveis com eventos de meados do séc. XVIII, nomeadamente o grande incêndio de 1750 que, segundo as fontes manuscritas, afetou a Igreja e esta zona em particular. Selecionou-se para o presente trabalho um grupo dos recipientes de armazenamento de líquidos daquele contexto, por se considerarem mais diretamente ligados com a vida a uso da estrutura hidráulica, com o objetivo de contribuir para o aprofundar do conhecimento sobre a cultura material do quotidiano urbano da cidade de Lisboa da Época Moderna, e do seu Hospital Grande em particular.

 

134. A CERÂMICA ITALIANA DOS SÉCULOS XV E XVI DO LARGO DO JOGO DA BOLA EM CARNIDE, LISBOA
Catarina Felício / Filipe Sousa / Raquel Guimarães / André Gadanho

A intervenção arqueológica no Largo do Jogo da Bola, Carnide, realizada entre os anos de 1994 e 1998, permitiu detectar seis silos de cronologia Medieval, escavados no substrato rochoso, revelando um considerável conjunto de materiais cerâmicos e vítreos, dos séculos XV e XVI. De entre o espólio exumado, surgem produções da área de Lisboa, cerâmica comum e faiança; bem como exemplares importados como porcelana e cerâmica espanhola e italiana. O conjunto que aqui apresentamos compreende exemplares das chamadas Majólica e cerâmica Graffita que, apesar de não ser muito significativo em termos quantitativos, apresenta contributos para o estudo da difusão e extensão do comércio que as Cidades Italianas mantinham com o Reino de Portugal e, no caso, Lisboa.

 

135. DOS OBJECTOS INÚTEIS, PERDIDOS OU ESQUECIDOS. OS ARTEFACTOS METÁLICOS DO LARGO DO CORETO (CARNIDE, LISBOA)
Carlos Boavida

Em 2012/2013, no âmbito da reabilitação urbanística do Largo do Coreto e ruas adjacentes, teve lugar uma intervenção arqueológica que permitiu a identificação de vários vestígios, entre os quais se destaca um conjunto de silos, abertos no substracto geológico, que após o seu abandono foram utilizados com lixeiras. Além dos numerosos artefactos cerâmicos, cujo estudo preliminar possibilitou atribuir a formação do contexto em finais do século XVI, primeira metade do século XVII, foram recuperados também objectos produzidos em vidro, osso e diversas ligas metálicas. Através do presente trabalho dar -se -á a conhecer a diversidade destes últimos, assim como a sua função.

 

136. UMA LIXEIRA NAS CASAS NOBRES DO INFANTADO
Tânia Manuel Casimiro / António Valongo

Escavações arqueológicas na Rua do Arsenal, num conjunto de edifícios junto à frente ribeirinha e defronte ao Largo do Corpo Santo, puseram a descoberto diversos contextos possíveis de datar entre os séculos XVI e XVIII, alguns deles relacionados com as Casas Nobres do Infantado, presumivelmente a residência do futuro D. Pedro II. Entre aqueles destaca-se pequeno depósito detrítico (UE 543), associado ao compartimento 4 do edifício ali identificado, no interior do qual foram recuperados diversos materiais cerâmicos, com elevado estado de preservação. O presente trabalho pretende discutir as razões para a formação daquele depósito propondo cronologias e a funcionalidade dos objectos ali identificados.

 

137. OS POTES MARTABAN PROVENIENTES DA ANTIGA RIBEIRA VELHA, LISBOA
Mariana Mateus / Inês Simão / Filipe Oliveira / Rita Souta

A intervenção arqueológica da primeira fase dos trabalhos de construção de um novo parque de estacionamento no Campo das Cebolas, em Lisboa, ofereceu um importante conjunto de contextos preservados, representando os diversos níveis de ocupação desta área da cidade, nomeadamente, entre os séculos XVI e XX. Os níveis arqueológicos mais antigos correspondem à sobreposição de depósitos relacionados com o assoreamento natural da frente -rio, intercalados com os processos de aterro conectados com a evolução urbanística da frente ribeirinha, que se fizeram sentir com mais intensidade desde o reinado de D. Manuel I. O seu interesse arqueológico está essencialmente marcado pela presença abundante de materiais arqueológicos, deixando-nos uma importante coleção de materiais quinhentistas, com diversas origens, entre as quais se contam alguns fragmentos de potes tipo martaban.

 

138. CERÂMICA PORTUGUESA AZUL SOBRE AZUL – SÉCULOS XVI E XVII
Luís Filipe Vieira Ferreira / Isabel Ferreira Machado / Tânia Manuel Casimiro

Estudou-se neste trabalho a cerâmica Azul sobre Azul (berettino) encontrada em contextos arqueológicos de produção e consumo, nomeadamente escavações em Lisboa e noutros sítios arqueológicos em Portugal (2ª metade Séc. XVI e inícios do Séc. XVII). A abundância desta faiança levou-nos a compará-la com outras semelhantes fabricadas em Itália, Ligúria (Savona e Albisola), em Espanha (fornos de Triana) e Países Baixos. Foram detectadas diferenças significativas nos difractogramas das pastas das cerâmicas destes quatro países. Na maior parte das amostras foi identificado como pigmento nos vidrados azul escuro e azul claro o silicato de cobalto, usando as espectroscopias de micro-Raman e reflectância difusa. As representações bivariáveis de Al/Si vs. Ca/Si evidenciam comportamentos bem diferenciados para as cerâmicas de Lisboa e Sevilha.

 

139 - PORTAS DE MADEIRA REUTILIZADAS EM COFRAGENS DE ÉPOCA POMBALINA (CAMPO DAS CEBOLAS, LISBOA)
Cristóvão Fonseca / João Miguez / José Bettencourt / Teresa Quilhó / Inês Simão / Mariana Mateus / Teresa Freitas

Durante os trabalhos arqueológicos realizados no âmbito da implementação do projecto “Desvios dos Serviços Afectados para Construção do Parque de Estacionamento no Campo das Cebolas” foram identificadas diversas infraestruturas em madeira, que serviram de apoio a construções em alvenaria. Entre estas destaca -se a reutilização de portas como cofragem de muros da reconstrução pombalina, após o Terramoto de 1755, pertencendo aos alicerces dos edifícios denominados Ver -o -Peso. Pretende -se analisar o contexto destes elementos e caracterizar os processos subjacentes à construção das portas, nomeadamente as técnicas de carpintaria e marcenaria utilizadas, os sistemas de consolidação e as ferragens de fixação ou de fecho. A singularidade destes elementos advém do seu estado de preservação, cronologia (possivelmente anterior ao terramoto) e do facto de, aparentemente, não existirem paralelos no panorama arqueológico nacional e internacional.

 

140 - O CONJUNTO DE SELOS DE CHUMBO PROVENIENTE DO CAMPO DAS CEBOLAS, LISBOA
Inês Simão / João Miguez

Os trabalhos de arqueologia realizados no Campo das Cebolas, em Lisboa, permitiram identificar um importante conjunto de contextos preservados, balizados entre os séculos XVI e XX. Os níveis arqueológicos mais antigos correspondem a uma sobreposição de depósitos, fruto do assoreamento da Ribeira Velha, cujo avanço sobre o rio ganhou particular importância no século XVI, com o plano de aterros da frente ribeirinha iniciado por D.Manuel I. O seu valor patrimonial está essencialmente marcado pela presença de uma importante colecção de materiais quinhentistas, com diversas origens, entre os quais se contam o presente conjunto de selos em chumbo. Com um carácter eminentemente mercantil, este tipo de selos, usados com finalidades associadas aos impostos alfandegários ou à identificação de fabricantes e mercadores, contribuem para um melhor entendimento das trocas económicas decorridas em período moderno, com informações ao nível das entidades emissoras, das proveniências geográficas e dos impostos pagos.

 

141. DA RIBEIRA VELHA AO CAMPO DAS CEBOLAS. ALGUNS DADOS SOBRE A EVOLUÇÃO DA FRENTE RIBEIRINHA DE LISBOA
Inês Simão / João Miguez / Marta Macedo / Teresa Alves de Freitas / Cristóvão Fonseca / José Bettencourt

O actual Campo das Cebolas associa-se, historicamente, à actividade portuária e mercantil da frente ribeirinha de Lisboa. Os trabalhos de arqueologia aqui realizados no âmbito da construção de um novo parque de estacionamento, permitiram identificar um conjunto de contextos preservados, balizados entre os séculos XVI e XX. Foi assim possível obter uma leitura diacrónica da evolução urbana da antiga Ribeira Velha, a partir do século XVI, quando se dá o seu aterro, fruto do plano de aterros da frente ribeirinha iniciado por D. Manuel I. Os vestígios identificados centram-se, assim, no século XVII, com a instalação do mercado da Ribeira Velha; no século XVIII, com a nova feição da Lisboa pombalina; e no século XIX, com as remodelações do Porto de Lisboa.

 

142. A DIMENSÃO MARÍTIMA DO BOQUEIRÃO DO DURO (SANTOS, LISBOA) NOS SÉCULOS XVIII E XIX: PRIMEIROS RESULTADOS ARQUEOLÓGICOS
Marta Lacasta Macedo / Inês Mendes da Silva / Gonçalo Correia Lopes / José Bettencourt

Os trabalhos arqueológicos realizados na Rua Boqueirão do Duro, Lisboa, em 2016, pela Era Arqueologia, S.A. em colaboração com o CHAM, possibilitaram o registo de um conjunto de vestígios arqueológicos que caracterizam a antiga praia de Santos como local de acostagem e estaleiro, entre o século XVIII e inícios do século XIX. Estas funções corresponderam à instalação de várias estruturas em madeira que reaproveitam elementos navais na sua construção e delimitam áreas de estaleiro naval, com núcleos de matéria-prima (peças náuticas em pré -forma). Destaca -se ainda uma grande estrutura em madeira, possivelmente um cais palafítico, no qual terá sido adossado um cais com estrutura em madeira. Foram também registados os vestígios de uma embarcação de pequeno porte.

 

143. ARQUEOTANATOLOGIA MODERNA/CONTEMPORÂNEA: PRÁTICAS FUNERÁRIAS E CRONOLOGIA RELATIVA NO ADRO DA IGREJA DE SANTA MARIA DOS ANJOS, VALENÇA
Luís Miguel Marado / Luís Fontes / Francisco Andrade / Belisa Pereira

Exumaram -se 30 indivíduos da necrópole da Igreja de Santa Maria dos Anjos (Valença). O objetivo é localizar e interpretar as práticas funerárias deste contexto. A arqueotanatologia reúne perspetivas arqueológicas, antropológicas e tafonómicas na interpretação de práticas funerárias. Permite aferir o posicionamento do esqueleto, as características da deposição e os processos tafonómicos que afetam o corpo e os materiais associados. A aplicação das abordagens arqueotanatológicas caracteriza as sepulturas como tipicamente primárias e individuais, em decúbito dorsal e orientação oeste -este, realizadas em covachos de espaço preenchido com sedimento, de preenchimento pós-decomposicional diferencial. Identificaram -se sequências cronostratigráficas longas. O gesto funerário é compatível com a religião cristã e a cronologia do contexto, e permite discutir o rito fúnebre e o estatuto socioeconómico dos indivíduos.

 

144. FRAGMENTOS DO QUOTIDIANO NO TERREIRO DO REAL MONUMENTO DE MAFRA (1717‑2017)
Ana Catarina Sousa / Marta Miranda / Ricardo Russo / Cleia Detry / Tânia Manuel Casimiro

No tricentenário do lançamento da primeira pedra do Real Monumento de Mafra apresentam-se os contextos arqueológicos identificados no Terreiro D. João V durante as obras de requalificação (2009-2011). A intervenção arqueológica incidiu fundamentalmente no Terreiro Norte, espaço urbano que teve já variadas designações e usos. Inicialmente está relacionado com a cerca conventual (1717-1843) mas com a intervenção de D. Fernando II esta área é remodelada, construindo-se o «Jardim do Cerco». Entre 1929 e 1930, todo o terreiro é remodelado, obra projectada pelo Arquitecto Paulino Montez. Os trabalhos arqueológicos permitiram a identificação de vários contextos arqueológicos: 1) estruturas, 2) depósitos; 3) aterros. O presente artigo será centrado no estudo das lixeiras, incluindo o estudo zooarqueológico, o estudo das cerâmicas e faianças. Este artigo pretende dar um contributo para o estudo do quotidiano no Convento de Mafra, numa perspectiva interdisciplinar.

 

145. O PROJECTO MUGE 1692: ENTRE A ARQUEOLOGIA DA ARQUITECTURA E A RECONSTRUÇÃO VIRTUAL
Gonçalo Lopes

O projecto em causa visa reconstruir virtualmente a vila de Muge (Salvaterra de Magos) no final do séc. XVII, mais concretamente em 1692, data em que o duque de Cadaval se torna seu donatário. Para esse efeito foi coligida toda a informação escrita possível nomeadamente registos notariais, paroquiais e a mais variada documentação existente em arquivos públicos e privados. Em paralelo registou -se de forma o mais exaustiva possível, todas as construções ou vestígios delas, técnicas construtivas e elementos arqueológicos que pudessem ser aplicados na recriação deste centro urbano durante o período proposto.

 

146. A FLORA ARQUEOLÓGICA DA QUINTA DO MEDAL (MOGADOURO) E A EXPLORAÇÃO DE RECURSOS VEGETAIS DURANTE OS SÉCULOS XVIII/XIX NO VALE DO SABOR
Leonardo da Fonte / João Tereso / Paulo Dordio Gomes / Francisco Raimundo / Susana Carvalho

Inserida no Plano de Salvaguarda Patrimonial do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor, a escavação arqueológica da Quinta do Medal (EP 201) é uma das únicas desta intervenção cuja diacronia atinge a época contemporânea. A recolha de 26 amostras sedimentares com conteúdo arqueobotânico permitiu uma análise antracológica e carpológica do sítio que nos permite agora ajudar a recriar elementos do que poderia ser a realidade neste sítio nos séculos XVII -XIX. Os resultados desta análise são aqui apresentados.

 

147. OS VIDROS DE BAÍA DA HORTA 1 (ILHA DO FAIAL, AÇORES) ENQUANTO VECTOR DE INTERPRETAÇÃO DE UM CONTEXTO DISPERSO
Tiago Silva / José Bettencourt

O sítio arqueológico Baía da Horta 1 (BH -001) foi escavado entre 2009 e 2010 durante as obras de minimização de impacte da construção do novo terminal de passageiros do Porto da Horta (Faial, Açores). Neste âmbito foi exumada uma elevada colecção de materiais possivelmente associada a um navio inglês, naufragado entre finais do século XVII e inícios do século XVIII. Neste trabalho apresenta -se a colecção de vidro recuperada durante a intervenção e analisa -se o papel destes artefactos enquanto vectores de interpretação de um contexto disperso. Serão abordados temas relacionados com a cronologia, com a vida a bordo, nomeadamente o uso de garrafas de vidro para o consumo, mas também com o transporte e armazenamento em vidro durante este período.

 

148. BAÍA DA HORTA 6 (BH ‑006): UM PROVÁVEL NAUFRÁGIO AMERICANO DO SÉCULO XIX
José Bettencourt / Teresa Quilhó / Cristóvão Fonseca / Tiago Silva

No âmbito dos trabalhos arqueológicos levados a cabo pelo CHAM no quadro do Projecto “Dragagem da bacia de manobras do terminal de passageiros do Porto da Horta, à cota de -8.5m (ZH)” foi realizada a avaliação e o registo exaustivo da estrutura do navio Baía da Horta 6 (BH -006). Os trabalhos permitiram concluir que este corresponde a um dos navios construídos em madeira com maior expressão visual conhecidos em Portugal, apesar da sua estrutura ter sido profundamente perturbada pelas dragagens e dos seus limites serem ainda indefinidos. Apresenta forro com chapas em liga de cobre e um cavilhamento compósito (madeira, ferro e ligas de cobre), o que sugere uma cronologia algures ao longo do século XIX, com um terminus ante quem nas primeiras décadas do século XX. A utilização de P. strobus e P. lambertiana sugere uma possível origem norte americana para o navio. Esta origem e cronologia colocam-no num contexto histórico em que o porto da Horta assumiu um papel estratégico essencial no apoio às frotas baleeiras americanas.

 

149. A FERRO E FOGO – A FUNDIÇÃO VULCANO & COLLARES, LISBOA
João Luís Sequeira / Inês Mendes da Silva

Os espaços fabris lisboetas dos séculos XIX e XX oferecem contextos arqueológicos fundamentais à compreensão do fenómeno da industrialização em Portugal. Das pequenas indústrias aos grandes complexos industriais, com relevante peso na economia local ou nacional, o estudo destas realidades coloca outra perspectiva sobre a documentação existente. É este o caso da Fundição da Vulcano & Collares em que a intervenção arqueológica reconheceu os seus vestígios com a presença de maquinaria pesada para serralharia, fornos e caldeiras de várias tipologias entre outros espaços e equipamentos. O presente estudo pretende analisar estas realidades, contribuindo para a caracterização da industrialização lisboeta que nos é familiar no que à documentação concerne, mas que materialmente tende a ser ignorada. Pretende também demonstrar que o atraso industrial nacional que a historiografia portuguesa tem várias vezes manifestado, nem sempre é assim tão generalizado: existem estes casos de sucesso, que importa dar a conhecer.

 

150. PROJECTO CASA MUSEU FIALHO DE ALMEIDA, CUBA – VALORIZAÇÃO DO TERRITÓRIO E ARQUEOLOGIA PREVENTIVA, RESULTADOS DO ACOMPANHAMENTO ARQUEOLÓGICO
Francisca Bicho / Luís Fialho / Consuelo Gomes / Teresa Ricou

O presente artigo pretende divulgar os trabalhos de acompanhamento arqueológico, levados a cabo em Cuba (Alentejo) na Casa do Escritor Fialho de Almeida, classificado como Monumento de Interesse Público pela Portaria n.º 263/2014 DR, 2.ª série, n.º 71, de 10-04-2014, no âmbito da arqueologia preventiva. Trata-se de um típico imóvel de arquitectura vernacular Alentejana de finais do séc. XIX.