Arqueologia em Portugal: 2017 - Estado da Questão

8. Época Medieval

 

104. EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA URBANA DE SANTARÉM ENTRE OS SÉCULOS VIII E XIII: UMA ANÁLISE MACROSCÓPICA A PARTIR DA LOCALIZAÇÃO DAS NECRÓPOLES ISLÂMICAS
Marco Liberato / Helena Santos

Como regra geral, as necrópoles muçulmanas na Península Ibérica localizam-se no exterior do espaço amuralhado, em áreas despovoadas ou com baixa densidade construtiva. A identificação em Santarém durante as últimas décadas de vários núcleos de enterramentos depositados segundo o ritual islâmico, permite realizar um ensaio preliminar em torno da evolução urbana da cidade, entre os séculos VIII e XIII.

 

105. O POVOAMENTO RURAL ISLÂMICO NA KURA DE ALCÁCER DO SAL: BREVE ANÁLISE DA TOPONÍMIA
Marta Isabel Caetano Leitão

O presente trabalho pretende, através da análise da toponímia de origem árabe e berbere na cartografia, dar a conhecer os modelos de povoamento e de ordenamento territorial no espaço geográfico que corresponderia, em parte, ao território da kura de Alcácer do Sal durante a ocupação muçulmana. Para além do actual concelho de Alcácer do Sal foram considerados, para efeitos desta investigação, a região da Península de Setúbal, os concelhos de Grândola, Santiago do Cacém, Sines e Odemira e algumas regiões do distrito de Évora, nomeadamente Alcáçovas, Cabrela e São Brás do Regedouro, freguesia hoje extinta e que integra actualmente a freguesia de Nossa Senhora da Tourega no concelho de Évora.

 

106. MANIFESTAÇÕES LÚDICAS NA CERÂMICA DO GHARB AL‑ANDALUS
Maria José Gonçalves / Susana Gómez Martínez / Jaquelina Covaneiro / Isabel Cristina Fernandes / Ana Sofia Gomes / Isabel Inácio / Marco Liberato / Constança dos Santos / Jacinta Bugalhão / Helena Catarino / Sandra Cavaco / Catarina Coelho

Malhas, marcas e “pedras” de jogo surgem com maior ou menor frequência no registo arqueológico, em suporte cerâmico. A sua forma, mais ou menos circular, não levanta grandes dúvidas quanto à associação a muitos dos jogos fruídos pelas classes populares no Garb al -Andalus. Mais raramente, surgem formas cerâmicas semelhantes às utilizadas no quotidiano das populações, mas de dimensão reduzida, tendo a sua interpretação funcional sido já objecto de estudos vários sem que, contudo, se estabilizasse a sua integração no mundo do lazer. Mais raramente ainda, surgem pequenos objectos coroplásticos, configurando sobretudo animais mas também figurações humanas, cuja associação a jogos e rituais diversos também tem sido aceite com reservas. Uma reflexão sobre estas problemáticas, e uma sistematização dos objectos cerâmicos que se poderão inscrever no mundo das manifestações lúdicas, é o objectivo do Grupo CIGA para este segundo congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses.

 

107. ESTUQUES DECORADOS ISLÂMICOS, DO SÉCULO XI, DO CASTELO DE SILVES
Rosa Varela Gomes

Durante as escavações arqueológicas dirigidas pela autora, em 2007 e 2016, no Castelo de Silves, recuperámos no exterior de área palatina do século XII, situada a nascente daquela alcáçova, conjunto de estuques. Estes, encontravam-se tombados sobre pavimento, constituído por massa de cal e areia, muito bem conservado. Os estuques correspondem a sectores de arcarias, decoradas através de relevos, incisões, excisões e pintura, assim como a pedaços de paredes ornamentadas com motivos de carácter arquitectónico, epigráfico, fitomórfico e geométrico. Verificámos que os elementos decorativos polícromos daqueles testemunhos foram, propositadamente, cobertos com massa de cal, tendo em vista escondê-los, aspecto que pode ter ocorrido devido a preceitos religiosos, aquando da chegada das comunidades almorávidas àquele território do Gharb al-Andalus.

 

108. O SISTEMA DEFENSIVO MEDIEVAL DE TAVIRA – ELEMENTOS OCULTOS POR ENTRE O CASARIO
Jaquelina Covaneiro / Sandra Cavaco / Fernando Santos / Liliana Nunes

Referida tardiamente na documentação muçulmana, a medina de Tavira apresenta um forte desenvolvimento urbano entre os finais do século XII e os inícios do século XIII. É durante o período almóada que se regista o alargamento da cintura defensiva da cidade e o seu reforço, conseguido através da edificação de torres e barbacãs. Nos últimos anos têm -se multiplicado as obras relacionadas com a requalificação de imóveis que determinaram um conjunto diversificado de trabalhos arqueológicos. Os dados que aqui se apresentam procedem de intervenções realizadas em locais distintos do centro histórico da cidade de Tavira. Pese embora o factodos trabalhos arqueológicos fornecerem informações fragmentárias, tem sido possível aduzir novos elementos caracterizadores ao sistema defensivo medieval da medina de Tavira.

 

109. A PORTA DE ALMEDINA (COIMBRA): OBSERVAÇÕES NO ÂMBITO DA RECUPERAÇÃO DE FACHADAS NA TORRE DE ALMEDINA
Sara Oliveira Almeida

A Torre de Almedina impõe -se, ainda hoje, a quem ingressa no centro histórico de Coimbra, erguendo -se no ponto mais vulnerável da cerca muralhada, na passagem entre a almedina e os arrabaldes. Trata -se de um monumento emblemático, controverso e já amplamente intervencionado. Em 2011, a empreitada de reabilitação de fachadas veio fornecer novas pistas de investigação e tornar uma vez mais evidente o quanto ainda se nos escapa das transformações operadas no monumento. Neste sentido, para além de uma nova interpretação e datação para o quadro de baixos-relevos inferior sobre a porta, avança -se com a descoberta de um elemento de reforço defensivo da entrada na abóbada superior e de dados que complementam o conhecimento acerca do aspecto original do painel escultórico superior.

 

110. A MINHA BOCA CONTA UMA HISTÓRIA: ABRASÃO DENTÁRIA E A SUA RELAÇÃO COM ACTIVIDADE E HÁBITOS PESSOAIS NUMA AMOSTRA PORTUGUESA DE ÉPOCA MEDIEVAL/MODERNA
Liliana Matias de Carvalho / Sofia N. Wasterlain

Quando se pretende conhecer as populações passadas, o estudo do desgaste dentário em amostras osteológicas de origem arqueológica possui grande valor. Este estudo pretende analisar casos invulgares de desgaste dentário em indivíduos da necrópole de São João de Almedina (Coimbra, Portugal, séculos XII a XVI). Observaram-se macroscopicamente todos os dentes disponíveis tanto nas suas faces oclusais como interproximais. Notaram-se padrões de desgaste pouco comuns (abrasão) nos dentes anteriores de três indivíduos. Os resultados serão interpretados à luz das condições biológicas, socioeconómicas e comportamentais da época medieval/moderna usando-se informações de outros estudos sobre desgaste extra-mastigatório, dados históricos e paralelos etnográficos. Pretende-se averiguar se o desgaste dentário pode fornecer informações relevantes sobre actividades comportamentais dos indivíduos inumados em São João de Almedina.

 

111. ESTUDO ARQUEOBOTÂNICO DO POVOADO ALTO ‑MEDIEVAL DE S. GENS: PERSPETIVAS SOBRE A EXPLORAÇÃO DE RECURSOS LENHOSOS E AGRÍCOLAS
Cláudia Oliveira / Ana Jesus / Catarina Tente / João Pedro Tereso

A ocorrência de um incêndio no sítio de S. Gens permitiu a conservação de matéria orgânica resultante do colapso de estruturas de madeira associadas aos penedos que delimitavam a entrada do povoado. Os resultados obtidos revelaram o domínio de carvalhos (Quercus spp.) nos carvões e milho-miúdo (Panicum miliaceum) na carpologia. Dos restantes, salienta -se a presença de fragmentos de pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris) e algumas espécies arbustivas, vários cereais e, ainda, carporrestos da flora local. O estudo deste sítio, em conjugação com outros, permitirá obter uma caracterização regional da exploração de recursos naturais no centro de Portugal, numa cronologia onde os estudos arqueobotânicos ainda não são frequentes.

 

112. ADORNOS DE CAVALO DA ÉPOCA MEDIEVAL, PROVENIENTES DAS ESCAVAÇÕES DO CASTELO DE ALMOUROL (1898)
Maria Antónia Athayde Amaral

Luís Teixeira Beltrão concluiria, em Janeiro de 1899, o relatório sobre uma escavação realizada em 1898 e iniciada por Garcês Teixeira, talvez, ainda, em 1897, no Castelo de Almourol. Curiosamente, acompanhava este documento uma representação cartográfica contendo a planta da fortificação onde se assinalavam as áreas intervencionadas e, ainda, através da referência aos números 1 a 7, o local onde se encontrara muito do material exumado (fotografia nº 2). A amostra de peças sobre a qual me debrucei faz parte do conjunto de material então recolhido, constituído por 170 artefactos e 444 moedas, em grande parte exposto no núcleo museológico da Escola Prática de Engenharia, agora Regimento de Engenharia Nº1, e diz respeito a um conjunto de peças utilizadas como adorno nos cavalos durante a Idade Média.

 

113. AS MARCAS DE CANTEIRO DA SÉ DE LISBOA
Sofia Silvério

O estudo das marcas de canteiro, surge como suporte na identificação dos diferentes períodos de construção, por que um edifício como a Sé de Lisboa terá passado. Tendo sido identificadas dezenas de marcas de canteiro nesta catedral, tentou -se que pudessem de algum modo suportar e apoiar algumas das datações dadas às diferentes fases construtivas. Foi, ainda, abordado o estudo morfológico e simbólico das marcas, dada a sua importância no contexto epocal em que foram produzidas, pelo que constituem informação cronológica não despicienda.

 

114. O Comércio Medieval De Cerâmicas Importadas Em Lisboa: O Caso Da Rua Das Pedras Negras Nº 21‑28
Filipe Oliveira / Rodrigo Banha da Silva / André Bargão / Sara Ferreira

Uma extensa escavação decorreu entre 1991 e 1998 em três edifícios contíguos na Rua das Pedras Negras, em Lisboa, cujos dados permanecem no essencial inéditos. Tendo o tema sido antes aflorado em data recente (Silva et al., no prelo), os autores publicam e descrevem o conjunto ali colectado das cerâmicas medievais importadas entre os finais do século XIII e o século XIV, que incluem produções valencianas, sevilhanas, granadinas, de Saintonge (polícroma, lisa e “mosqueada”), Norte da França, flamengas (Bruges e Antuérpia?), inglesas (Londres) e, eventualmente, dos Países Baixos. O seu conjunto a amostragem mostra um predomínio marcado das elaborações oleiras comerciadas a partir dos portos de Bordéus e La Rochele sobre todas as restantes origens, sendo sintomático quer da capacidade aquisitiva dos lisboetas atingida entre os reinados de D. Afonso III e D. Pedro I, como do papel preponderante desempenhado pela cidade de Lisboa no quadro das teias de relações comerciais marítimas então estabelecidas por Portugal com o norte atlântico europeu.

 

115. CONSTRUÇÕES EM TAIPA DE ÉPOCA MEDIEVAL E MODERNA: O EXEMPLO DO CHIADO
Vanessa Mata / Nuno Neto / Paulo Rebelo

As intervenções arqueológicas realizadas pela Neoépica, Lda. na Rua António Maria Cardoso, no Chiado, revelaram um conjunto de estruturas que ilustram uma frequente ocupação daquele espaço desde Época Medieval, com recurso a técnicas construtivas diversas, entre as quais se destacam as construções em taipa. Para além da presença de troços da Muralha Fernandina, em cuja edificação se verificou o emprego da taipa militar, os contextos arqueológicos com cronologia mais recuada, datados do século XVI, são testemunhados por muros em alvenaria de pedra, mas também por vestígios de estruturas em taipa que formariam um espaço habitacional. As escavações arqueológicas em área permitiram detectar igualmente testemunhos estruturais associados aos Palácios que marcaram a morfologia daquela zona do Chiado em Época Moderna.

 

116. RUA DO ARSENAL 148, LISBOA. RESULTADOS DA ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA
António Valongo

O presente trabalho incide sobre os achados arqueológicos identificados em edificado Pós -pombalino localizado entre o Largo do Corpo Santo e a Praça do Comércio, na frente ribeirinha do centro histórico de Lisboa. Atestadas pela bibliografia, as Casas Nobres estavam enquadradas entre a Rua da Corte Real e a Calçada do Corpo Santo, datáveis do século XVI. A Calçada do Corpo Santo foi identificada no sector Oeste, onde também foi reconhecido paredão de embate das marés e embasamento da Ermida de Nossa Senhora da Graça associada à Irmandade dos Mareantes no século XV. Um dos achados de maior destaque, a Muralha Fernandina, construída em 1373/75, identificou -se troço bem preservado com imbricamento com Torre João Bretão de configuração ímpar.

 

117. CARACTERIZAÇÃO DA OCUPAÇÃO TARDOMEDIEVAL NA RUA DA PRATA 221 ‑231 E RUA DOS CORREEIROS 158 ‑168, LISBOA
Filipe Oliveira / João Miguez / Catarina Furtado / Cláudia Costa

No decorrer da intervenção arqueológica realizada no edifício da Rua da Prata 221 -231 e Rua dos Correeiros 158 -168, nos anos de 2015 e 2016, foram exumados diversos contextos associados com a larga diacronia ocupacional desta zona da cidade. Daqui destacam -se as evidências do urbanismo seiscentista e setecentista, e os vestígios materiais das actividades e indústrias que permeavam esta área de Lisboa dos séculos XIV e XV. Procura -se apresentar este sítio como um caso de estudo da evolução urbanística da cidade de Lisboa dos finais da medievalidade até à actualidade. Considera -se que a informação extraída dos vestígios cerâmicos, estruturais e faunísticos contribui para a melhor comprensão dos modos de vida socioeconómicos existentes na área actualmente compreendida entre as Ruas da Prata e dos Correeiros.

 

118. BREVE APONTAMENTO SOBRE A CERCA (“VELHA”) MEDIEVAL DE LAGOS
Ana Gonçalves / Elena Móran / Ricardo Costeira da Silva

Apresentam-se os resultados obtidos numa pequena intervenção arqueológica realizada no centro histórico de Lagos (Rua 5 de Outubro, n.º 36) que concorrem para aprofundar o conhecimento acerca do sistema muralhado medieval desta cidade. A designada acção de natureza preventiva permitiu identificar e localizar, pela primeira vez, a presença de um fosso que acompanha o pano poente do recinto defensivo. Para além das características formais desta estrutura, expõe -se o contexto estratigráfico registado e o espólio arqueológico associado que permite corroborar cronologicamente o ritmo das acções construtivas relacionadas com a expansão urbanística de Lagos no período renascentista.

 

119. AVEIRO EM QUATROCENTOS: EVIDÊNCIAS MATERIAIS DE UM PERÍODO (AINDA) POUCO CONHECIDO JUNTO AO MOSTEIRO DE JESUS (AVEIRO, PORTUGAL)
Ricardo Costeira da Silva / Sónia Filipe / Paulo Morgado

Expõem-se os resultados obtidos numa intervenção arqueológica realizada na Av. Santa Joana em Aveiro, junto à antiga cerca medieval, ao Mosteiro de Jesus e ao antigo bairro das olarias desta cidade. São (ainda) pouco conhecidos os indícios de ocupação humana anterior ao século XVI em Aveiro. Apresenta-se o estudo de uma coleção de cerâmica quatrocentista, exumada em contexto selado, que contribui para aprofundar o conhecimento dos aspectos morfo-tipológicos deste material. Por outro lado, a análise do contexto do achado, proveniente da colmatação de fossas abertas directamente no substrato geológico, suscita outras questões e permite a reflexão e interpretação mais sustentada deste tipo de estruturas que têm presença regular nas intervenções urbanas realizadas nesta cidade.

 

120. RESULTADOS DA INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA REALIZADA NOS Nº 54 A 58A DA RUA DIREITA, EM ÓBIDOS
Helena Santos / Marco Liberato / Romão Ramos

Apresentam -se os resultados de uma intervenção arqueológica realizada no âmbito de um projeto de alteração e conservação de edifício situado nos nºs 54 a 58 da Rua Direita, em Óbidos. Se inicialmente se previa uma afetação mínima ao nível do subsolo, alterações ao projeto efetuadas no decorrer da obra levaram à identificação de contextos arqueológicos preservados. A estratigrafia observada e os materiais exumados demonstram que se enquadram cronologicamente em período Medieval e Moderno. Destaca -se um conjunto edificado que compreende uma porta com arco de volta inteira, que serviria um espaço de circulação lajeado, localizado a cerca de 2,20m abaixo da cota de circulação atual, demonstrando a ocorrência de alterações urbanísticas de monta, do período Moderno em diante.