Arqueologia em Portugal: 2017 - Estado da Questão

6. Arte Rupestre

 

E DEPOIS DO CÔA? A INVESTIGAÇÃO DE ARTE RUPESTRE EM PORTUGAL DESDE 1995 – PARTE 1: A SUL DO TEJO
Andrea Martins

Em 1995, o processo Côa provocou uma revolução na arqueologia nacional, levando a que pela primeira vez passasse a ser independente nos organismos de tutela do património. Esta mudança foi na prática resultado do processo mediático que se desenrolou em torno da polémica da construção da barragem de Foz Côa vs preservação das gravuras rupestres. A importância do contexto arqueológico aliada a uma conjugação política favorável fez com que o complexo de arte rupestre do Côa ficasse preservado, iniciando assim uma nova etapa nos estudos de arte rupestre em Portugal. Ao longo destes 22 anos muitas mudanças ocorreram, quer do ponto de vista administrativo, metodológico, epistemológico, social e académico, existindo uma nova geração de arqueólogos que também investigam sítios de arte rupestre. Pretendemos com este trabalho fazer uma abordagem historiográfica à temática em questão, abordando os principais sítios e trabalhos realizados. Neste primeiro texto incidiremos sobre a investigação realizada no território a sul do Tejo, ou seja, nos distritos de Setúbal, Portalegre, Évora, Beja e Faro.

 

153. ISTO NÃO É UM AFLORAMENTO! É UMA ROCHA DE ARTE RUPESTRE… FACTORES POTENCIAIS DE ESCOLHA DE SUPERFÍCIES DE ARTE RUPESTRE NA FASE ANTIGA PALEOLÍTICA DA ARTE DO CÔA
António Batarda Fernandes

Na literatura especializada de arte rupestre encontram -se várias referências ao papel que diferentes factores, em contextos crono -espaciais diversos, poderão ter desempenhado na escolha de superfícies a pintar e/ou gravar. Tom, proeminência ou localização topográfica das superfícies pétreas, encontram -se entre os mais frequentemente mencionados. O objetivo deste artigo é analisar sinteticamente a relevância de factores usualmente referidos na bibliografia aquando da escolha de rochas suscetíveis de serem sujeitas a atenção artística durante a fase antiga paleolítica da Arte do Côa. Tal análise terá necessariamente de examinar até que ponto questões de preservação diferencial permitem ou não retirar conclusões pertinentes acerca da importância de cada um dos factores discutidos.

 

75. A ARTE RUPESTRE DA GRUTA DO ESCOURAL – NOVOS DADOS ANALÍTICOS SOBRE A PINTURA PALEOLÍTICA
António C. Silva / Guilhem Mauran / Tânia Rosado / José Mirão / António Candeias / Carlos Carpetudo / Ana Teresa Caldeira

Apesar de comumente aceite a atribuição de uma cronologia paleolítica aos vestígios de pintura descobertos há meio século na Gruta do Escoural, o seu estudo arqueológico nunca fora além de considerações estilístico-formais, dificultadas pela ausência de contextos arqueológicos seguros. No âmbito de uma abordagem mais alargada de observações e registos analíticos recorrendo a novas tecnologias disponíveis, foi pela primeira vez possível proceder a um conjunto de análises físico-químicas aos pigmentos pré-históricos usados no Escoural, cujos resultados agora se apresentam e discutem.

 

76. A ARTE MEGALÍTICA DA MAMOA 1 DO TACO (ALBERGARIA‑A‑VELHA, AVEIRO).
NOVOS RESULTADOS

Lara Bacelar Alves / Pedro Sobral de Carvalho

Três décadas volvidas desde a sua identificação por Fernando Silva, a Arte Megalítica da Mamoa 1 do Taco foi revisitada no âmbito do projecto de valorização patrimonial da necrópole. À época foi dada à estampa uma magnífica composição de motivos formados por arcos de círculo concêntricos gravada num esteio da câmara dolménica, tema pouco comum no espaço peninsular mas frequente noutras latitudes. Em 2014, detectou -se a presença de gravuras em quatro dos cinco ortostatos conservados. Este monumento guardava ainda, no interior do tumulus, uma peça notável: um elemento de dormente de mó manual com vestígios de pigmento vermelho. Neste artigo apresenta -se o registo gráfico dos esteios decorados e discutem -se algumas hipóteses interpretativas em torno da dicotomia estilística que este acervo encerra.

 

77. O MONTE FARO – UMA PAISAGEM ICÓNICA DA ARTE ATLÂNTICA PENINSULAR
Lara Bacelar Alves / Mário Reis

No início da década de 1980 foram estudados por E. J. Silva e A. Leite da Cunha, três sítios paradigmáticos na área do Monte Faro (Valença, Viana do Castelo): Monte da Laje, Tapada do Ozão e Monte dos Fortes. Actualmente, o Monte Faro figura como o primeiro grande conjunto de Arte Atlântica identificado em Portugal. A mais recente actualização do inventário permitiu aumentar de 122 (em finais de 2015) para 135 o número de rochas decoradas, sendo a grande maioria atribuível àquela tradição artística pré -histórica. Contido numa área de c. de 26 km2, o acervo equivale sensivelmente à totalidade das ocorrências conhecidas e dispersas pelo Noroeste do país. Neste artigo ensaia-se uma primeira abordagem às principais temáticas representadas e sua implantação na paisagem.

 

78. GRAVURAS RUPESTRES DO NOROESTE PORTUGUÊS PARA ALÉM DAS ARTES ATLÂNTICA E ESQUEMÁTICA
Ana M. S. Bettencourt

Partindo da premissa de que a Arte Atlântica do Noroeste se caracteriza, apenas, por composições circulares e se desenvolveu durante o Neolítico-Calcolítico, e de que a Arte Esquemática de ar livre se individualiza, ainda que embrionariamente, em duas fases, sendo a primeira do Neolítico e Calcolítico e a segunda proto -histórica, foi possível isolar um grupo significativo de motivos gravados que se afastam de ambos os estilos e que serão alvo de estudo neste trabalho. Trata -se de um grupo, que por paralelos com objetos metálicos e motivos gravados nas estelas do Sudoeste ibérico, se pode inserir na Idade do Bronze, materializando, no Noroeste, novas cosmogonias de matriz mediterrânica e atlântica e aumentando a rede de lugares de significação colectiva experienciados pelas comunidades.

 

79. O CONJUNTO DE GRAVURAS RUPESTRES DE SANTO ADRIÃO (CAMINHA, PORTUGAL). EMBARCAÇÕES, ARMAS, CAVALOS E EX‑VOTOS
Manuel Santos -Estévez / Ana M. S. Bettencourt

Este artigo pretende dar a conhecer os primeiros resultados dos trabalhos de limpeza, decalque, levantamento fotogramétrico e escavação desenvolvidos no caos de blocos graníticos de Santo Adrião, no concelho de Caminha. Os ditos trabalhos permitiram identificar 11 afloramentos com gravuras rupestres, alguns deles com motivos pouco frequentes na arte rupestre do Norte de Portugal. Os motivos registados correspondem a composições circulares, armas, quadrúpedes, um reticulado, motivos em U e três barquiformes. Também foram exumados 24 artefactos líticos possivelmente depositados intencionalmente entre as fendas do caos de blocos onde se encontram as gravuras.

 

80. UMA ABORDAGEM “MULTI ‑PROXY” APLICADA À CONSERVAÇÃO DO SÍTIO DE ARTE RUPESTRE DE COBRAGANÇA, MAÇÃO, PORTUGAL
Sara Garcês / Hugo Gomes / Vera Moleiro / Hugo Pires / Flávio Joaquim / Anabela Pereira / Luiz Oosterbeek

Este trabalho apresenta uma abordagem multidisciplinar à monitorização do estado de conservação do sítio de arte rupestre de Cobragança, em Mação, Portugal. Este apresenta um estado grave de conservação, compreendendo-se, hoje em dia, uma perda bastante acentuada do conjunto de gravuras devido a fatores naturais e, essencialmente, fogos florestais. Tendo como princípio a análise dos primeiros registos de campo nos anos 40 do século XX, inicia-se um processo de monitorização da alteração do estado de conservação do sítio. Através da combinação de vários métodos, é possível compreender o processo de degradação do sítio, proceder à reconstituição aproximada do acervo iconográfico e, a partir deste, valorizar o Património e desenvolver acções de proteção e divulgação sustentáveis.