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Arqueologia em Portugal: 2017 - Estado da Questão

7. Antiguidade Clássica e Tardia

 

81. O PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO SOBRE A OCUPAÇÃO HUMANA EM TORNO DA ALDEIA DE PEGARINHOS (ALIJÓ) – EM BUSCA DAS ORIGENS DA ROMANIZAÇÃO DO DOURO
Tony Silvino / Pedro Pereira

O Vale do Douro durante o período Romano é, desde cedo, um tema sobre o qual vários investigadores têm dedicado uma atenção particular, sobretudo devido à estreita ligação de Roma à viti-vinicultura na perspectiva da historiografia tradicional, essencial no esquema económico regional desde o Período Moderno até aos nossos dias. O Projecto de Investigação sobre a Ocupação Humana em torno da Aldeia de Pegarinhos, Alijó (PIOHP) iniciou-se em 2012, terminando a sua primeira fase em 2016. Com uma ocupação clássica faseada em dois momentos, o sítio de Trás do Castelo é, entre os séculos Iº e IIIº, ocupado por uma estrutura de cariz económico, com vários tipos de estruturas de produção e transformação de matérias primas. Num segundo momento, durante o século IVº, o sítio voltará a ser ocupado, mas num contexto sobretudo habitacional. Os objectivos iniciais do projecto eram extremamente específicos, ligados sobretudo ao processo de romanização. No entanto, os dados proporcionados permitem-nos ir além dos lugares comuns e recoleções de artefactos em que a historiografia tradicional se tem suportado para escrever a história do Douro Romano.

 

82. O CORPVS DOS MOSAICOS ROMANOS DO CONVENTVS BRACARAVGVSTANVS
Fátima Abraços / Licínia Wrench / Cátia Mourão / Filomena Limão / Jorge Tomás García

Há já alguns anos que nos dedicamos ao estudo do mosaico romano, à sua inventariação, conservação e restauro. Demos a conhecer em vários estudos os mosaicos romanos provenientes de sítios arqueológicos do actual território português, que se encontram in situ ou em coleções de museus e particulares. No entanto, graças ao apoio da tutela do Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa (MDDS) e ao trabalho de intervenção arqueológica da equipa de Salvamento de Bracara Augusta, temos dado maior destaque ao estudo dos mosaicos romanos que se encontram no território atual do antigo Conuentus Bracaraugustanus. Queremos agora reunir este património mosaístico e proceder ao seu estudo de forma sistemática no âmbito de um Corpus: “O Corpus dos mosaicos romanos do Conuentus Bracaraugustanus”. Neste artigo pretendemos apresentar o trabalho que temos vindo a desenvolver e o que pretendemos incrementar para dar continuidade a este projeto.

 

83. VESTÍGIOS DE TRANSFORMAÇÃO DE PRODUTOS NO CONCELHO DE CASTELO DE VIDE (PORTALEGRE, PORTUGAL) – INSERIDOS NO POVOAMENTO RURAL ROMANO
Sílvia Monteiro Ricardo

Em época romana, o Alentejo demonstra uma densa exploração agrícola, da qual ficaram como testemunhos elementos móveis e algumas estruturas, essencialmente. O estudo destes elementos contribui para entender aspetos económicos e técnicos quanto à funcionalidade e exploração do fundus, no quadro das estratégias económicas do povoamento rural. Os elementos móveis fornecem importantes dados quanto à orientação, quantificação produtiva e evolução tecnológica. Apesar de também suscitarem dúvidas quanto às cronologias, reaproveitamentos noutras épocas posteriores, e o facto de raramente aparecem associados às respetivas estruturas produtivas. Este artigo é fundamentalmente um inventário dos contrapesos e outros componentes relacionados com a transformação de produtos, identificados no concelho de Castelo de Vide. Pretendem -se reconhecer novos dados e leituras, num concelho com um património arqueológico singular.

 

84. NOVOS DADOS SOBRE A OCUPAÇÃO DE ÉPOCA ROMANA REPUBLICANA DA NECRÓPOLE DO OLIVAL DO SENHOR DOS MÁRTIRES (ALCÁCER DO SAL): O ESPÓLIO METÁLICO
Francisco B. Gomes

Apesar de conhecida sobretudo pela sua intensa utilização durante a Idade do Ferro, a necrópole do Olival do Senhor dos Mártires (Alcácer do Sal) apresenta uma sequência de ocupação algo mais ampla, que engloba também a Época Romana, e em particular os momentos iniciais desta, como se tem vindo a evidenciar em estudos recentes. A presente contribuição visa acrescentar ao panorama já conhecido um conjunto de materiais metálicos inéditos de cronologia segura ou provavelmente republicana, que reforçam a imagem de um uso funerário continuado da necrópole durante esse período.

 

85. REFLEXÕES EM TORNO DA JAZIDA ARQUEOLÓGICA TORRE VELHA 1 E A SUA RELAÇÃO COM O ESPAÇO E DINÂMICAS OCUPACIONAIS ENVOLVENTES
Teresa Ricou Nunes da Ponte

A Horta do Cabral 6 localiza -se próximo da vila do Torrão, numa faixa aplanada com substrato de calcreto (caliço), no qual foram abertas e, posteriormente, colmatadas, estruturas negativas de tipo fossa. Nas 17 estruturas intervencionadas recuperaram -se elementos cerâmicos, pedra lascada e afeiçoada e fauna mamalógica, entre a qual se conta um veado juvenil completo e articulado, depositado intencionalmente numa das fossas e atribuível ao Bronze Final do Sudoeste, através da datação pelo radiocarbono de uma amostra do seu material ósseo. Foram ainda recolhidos e identificados elementos vegetais carbonizados. O carácter doméstico da ocupação do sítio parece evidente. Insere -se num conjunto de sítios caracterizados pelo agrupamento de estruturas negativas e, normalmente, sem estruturas positivas, que têm vindo a ser identificados em diversos locais do Sudoeste peninsular. Este tipo de jazida da Pré-História recente permaneceu desconhecido até muito recentemente.

 

86. A OCUPAÇÃO ROMANA DO MONTE DOS TOIRAIS, MONTEMOR ‑O ‑NOVO. UM EXEMPLO DE ARQUEOLOGIA PREVENTIVA NO CONTEXTO DOS FINAIS DOS ANOS 90 (SÉC. XX)
Jorge Vilhena / Carolina Grilo

O sítio arqueológico do Monte dos Toirais localiza -se no concelho de Montemor -o -Novo, na região do Alentejo Central. Identificado em 1996 e intervencionado em 1998, constituiu -se como um dos primeiros testemunhos de uma intervenção em contexto empresarial no âmbito da arqueologia de salvamento, então relacionada com o Plano de Minimização de Impacte Ambiental da A6 – Autoestrada do Alentejo central. O sítio compreendeu uma primeira ocupação da Idade do Ferro, centrada no século V a.C., e uma segunda ocupação de cronologia romana alto -imperial, objeto da presente comunicação. Volvidos quase 20 anos da intervenção ali realizada, e em paralelo aos estudos em curso sobre a ocupação proto -histórica do local, pretende -se apresentar uma síntese dos testemunhos de época romana identificados no Monte dos Toirais. Partindo de uma abordagem centrada na caracterização das estruturas e nos espólios aí exumados, discutem -se alguns aspectos relacionados com a dinâmica do local no contexto da ocupação rural romana da região a oeste de Ebora Liberalitas Iulia.

 

87. A ACTUAÇÃO VOTIVA DOS GRUPOS DE ORIGEM SERVIL NO SUL DA LUSITÂNIA
Sílvia Teixeira

O propósito deste trabalho passa por expor algumas considerações a respeito da presença e actuação dos grupos de origem servil em âmbito votivo, no Sul da Lusitânia, procedendo ainda à averiguação de algumas ideias que têm sido difundidas pela literatura desta temática, a respeito da representatividade de escravos e libertos na epigrafia votiva e da natureza das divindades por eles cultuadas no contexto mais lato da Hispânia. Com vista a cumprir este propósito, recorremos à epigrafia latina como principal fonte informativa, a qual, embora quantitativamente modesta e susceptível a dificuldades de interpretação, decorrentes da complexa identificação de escravos e libertos nas inscrições, afigura -se -nos informativa nestes aspectos, corroborando o importante papel destes grupos nas vivências socioculturais da Lusitânia.

 

88. ATAEGINA UMA DIVINDADE PENINSULAR
Cristina Lopes

Este artigo apresenta linhas de pesquisa relativas aos aspetos que se afiguram mais relevantes quanto à divindade peninsular Ataegina. Esta divindade surge, em muitos aspetos, como um caso excecional da religião indígena. Nomeadamente no que respeita às variantes da sua nomenclatura, possível extensão geográfica, iconografia e iconologia. Este contributo trata ainda de incluir a temática do seu culto, ainda mal compreendido, nomeadamente em Mérida, aproximada a Proserpina enquanto culto privado e ligado às elites emeritenses e à sua apropriação do Lucus Feroniae.

 

89. ESPÓLIO DE CERÂMICAS FINAS ROMANAS E SEPARADORES DOS FORNOS DO MORRAÇAL DA AJUDA (PENICHE, PORTUGAL)
Eurico Sepúlveda / Guilherme Cardoso / Catarina Bolila / Severino Rodrigues / Inês Ribeiro

Na persecução dos estudos e das análises a que temos vindo a fazer ao espólio cerâmico romano, obtido desde 1998 neste sítio arqueológico tivemos como objetivo principal o estudo do material anfórico para o qual se publicou muito recentemente (2016) uma tabela crono tipológica desta produção. Pretendemos com esta nossa nova comunicação apresentar um estudo sobre a cerâmica fina, sobre as imitações, suas tipologias e produções locais, neste caso baseado na análise das pastas em que foram efetuadas, assim como, tentar apresentar mais uma pista, que se torne em uma outra ajuda com o fim de obter a origem de Lúcio Arvénio Rustico, o “fundador” desta olaria romana.

 

90. AS «MARCAS DE OLEIRO» NA TERRA SIGILLATA DE VALE DE TIJOLOS (ALMEIRIM) E AS DINÂMICAS COMERCIAIS NO AGER SCALLABITANVS DURANTE O PRINCIPADO
Rodrigo Banha da Silva / João Pimenta / Henrique Mendes

O sítio rural romano de Vale de Tijolos surge-nos mencionado por diversas vezes (Henriques, 1982, 1987; Quinteira, 1996, 1997), estando referenciado com o CNS 3110. Conhecido através de uma vasta dispersão superficial de vestígios cerâmicos, vítreos, metálicos e numismáticos, desconhece -se para já qualquer estrutura. No Centro de Estudos Arqueológicos de Vila Franca de Xira encontra -se depositada uma colecção de materiais arqueológicos proveniente do sítio rural romano de Vale de Tijolos, de que se seleccionaram para esta apresentação as «marcas de oleiro» na terra sigillata, 26 exemplares na sua maioria muito fragmentários. Estão representadas impressões efectuadas em fabricos de modo itálico, tardo -itálicos pisanos, sud -gálicos de La Graufesenque e hispânicos setentrionais, bem ilustrativos da elevada capacidade de aprovisionamento e da diversidade do fornecimento de que o local dispôs entre finais do séc. I a.C. e as primeiras décadas do séc. II d.C. O balanço diacrónico do conjunto de «marcas de oleiro» permitiu esboçar o perfil de importações de Vale de Tijolos, e contrastar os dados com os com a mesma natureza do outro importante sítio rural de Azeitada e do centro redistribuidor regional correspondente à cidade de Scallabis (Silva, 2012), reavaliando os perfis regionais de consumo da terra sigillata nesta zona nevrálgica do Baixo Tejo português.

 

91. EVIDÊNCIAS DE UM ESPAÇO FUNERÁRIO. VESTÍGIOS DE UMA NECRÓPOLE ROMANA ÀS PORTAS DE SCALLABIS
Carlos Boavida / Tânia Manuel Casimiro / Telmo Silva

No final de 2013, durante os trabalhos de acompanhamento arqueológico de obra no Largo Pedro Álvares Cabral (Santarém) foram identificados diversos vestígios da presença humana ao longo de várias centúrias. Aquele espaço localiza -se a escassos metros da antiga porta de Alpram, no principal acesso ao planalto onde foi construída a alcáçova de Santarém. Embora muito destruídos, os mais antigos achados correspondiam a pequenas fossas preenchidas por cinzas, no interior das quais foram recuperados diversos fragmentos de recipientes vítreos, na maioria deformados por exposição ao fogo, assim como restos de pequeno pote cerâmico e pequenas esquírolas de osso carbonizado. Tendo em conta as características apontadas e a localização do achado, pensamos estar perante necrópole de incineração de Época Romana, datável entre os séculos I e II d.C..

 

92. ¿REQUIESCAT IN PACE? ABORDAGEM TRANSDISCIPLINAR A POSSÍVEIS CASOS DE ENTERRAMENTOS ATÍPICOS IDENTIFICADOS NA NECRÓPOLE NOROESTE DE OLISIPO
Sílvia Casimiro / Francisca Alves Cardoso / Rodrigo Banha da Silva / Sandra Assis

Dezasseis anos após a grande intervenção arqueológica na Praça da Figueira, surgem novos dados relativos ao universo funerário da Necrópole Noroeste de Olisipo. Tendo subjacente uma abordagem transdisciplinar, foram analisados os dados relativos aos trabalhos arqueológicos, escavados e estudados os restos ósseos humanos as estruturas funerárias e respetivo espólio material associado. O cruzamento destes dados com a informação obtida a partir dos registos estratigráfico e fotográfico, permitiu identificar padrões de inumação que se destacam e suscitam uma especial atenção. Pretende -se, desta forma, apresentar explicações passiveis de caracterizar estas inumações que, desde logo, se apresentam como fora da norma verificada naquele contexto.

 

93. O ESPAÇO DE NECRÓPOLE ROMANA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO, LISBOA
Nelson Cabaço / Alexandre Sarrazola / Rodrigo Banha da Silva / Liliana Matias de Carvalho / Marina Lourenço

No nº 84 a 90 da Rua das Portas de Santo Antão foi identificado um espaço de necrópole que vem contribuir de forma muito significativa para o estado atual dos nossos conhecimentos relativo à ocupação romana de Lisboa. Uma abordagem mais específica orientada para as suas práticas funerárias e associadas evidências materiais permite o enquadramento deste contexto nos séculos III a inícios do IV d.C., época de importantes transformações na organização urbana de Olisipo.

 

94. PINTURA MURAL NA TRAVESSA DO FERRAGIAL, LISBOA
Raquel Henriques / António Valongo

O aparecimento de um conjunto, embora, fragmentado, de pintura mural romana, datado do século I/II d.C., identificados durante uma intervenção de sondagens de diagnóstico arqueológico, realizadas no interior do edificado situado na Travessa do Ferragial nº 1 a 14, em Lisboa.

 

95. ASPETOS CONSTRUTIVOS DO TEATRO ROMANO DE LISBOA: MATÉRIAS‑PRIMAS E TÉCNICAS EDIFICATIVAS
Lídia Fernandes

Apresentam -se alguns resultados interpretativos relativos à construção do teatro de Felicitas Iulia Olisipo. Tais aspetos, referidos por vezes, não foram ainda sujeitos a uma análise detalhada e circunscrita. A campanha arqueológica realizada no interior do monumento em 2015, permitiu a obtenção de novas informações e diferentes vertentes de análise, como seja o processo inicial da edificação ou as obras de preparação do terreno, permitindo perceber de que forma a planimetria inicial do modelo se implementou no solo. Também a matéria-prima utilizada merece atenção, ainda que a utilização intensa dos recursos pétreos locais fosse expectável. Algumas análises químicas e mineralógicas realizadas permitem ir um pouco mais além quanto a interpretações sobre a seleção dos materiais e a razão da sua inclusão em determinados locais.

 

96. UM CONTEXTO CERÂMICO E VÍTREO DA PRIMEIRA METADE DO SÉC. III D.C. DO PALÁCIO DOS CONDES DE PENAFIEL (LISBOA)
Raquel Guimarães / Rodrigo Banha da Silva

Uma extensa escavação arqueológica municipal teve lugar nos jardins do Palácio dos Condes de Penafiel (Lisboa), entre 1992 e 1993. O conhecimento actual do urbanismo romano de Olisipo situa esta área nas traseiras das Thermae Cassiorum, o grande edifício público para banhos da cidade, cuja construção os dados mais recentes remetem para o lapso Flávios -Trajano (SILVA, 2012). O local revelou uma sequência estratigráfica somente iniciada no período júlio -cláudio, equivalente a uma sucessão de depósitos detríticos urbanos, prática que ali se prolongou até à Antiguidade Tardia (SILVA e DE MAN, 2013). Entre as unidades identificadas, o contexto «Q.15/Cam.20» revelou um extenso e diversificado conjunto de materiais vítreos e cerâmicos (sigillata, lucernas, terracota, ânforas, cerâmicas comuns, …), infelizmente muito fragmentado, onde se deverá destacar a presença de 103 fragmentos de terra sigillata clara africana, acompanhada por um único fundo hispânico oriundo de Andújar e um outro sudgálico. Os fabricos norte africanos A eram exclusivos, tendo sido identificadas as formas Hayes 9B, 14B, 16, e, maioritárias, as Hayes 14A e 27. A representatividade e morfologias remetem a formação deposicional para uma data dentro da primeira metade do séc. III d.C. O conjunto assoma, portanto, como um valioso contributo para a definição do perfil vítreo e cerâmico de Lisboa naquele período.

 

97. CONTEXTOS ROMANOS IDENTIFICADOS NA FRENTE RIBEIRINHA DE LISBOA
Helena Pinheiro / Raquel Santos / Paulo Rebelo

O presente artigo pretende apresentar os resultados preliminares de duas intervenções arqueológicas levadas a cabo em dois imóveis localizados na frente ribeirinha de Lisboa: no Campo das Cebolas, nº 1 a 12A / Arco de Jesus, nº 1 a 5 e na Rua dos Bacalhoeiros, nº 16 a 16D/Arco das Portas do Mar, nº1 a 5. Os trabalhos permitiram identificar diversos contextos de época romana, nomeadamente pisos, muros, parte do que parece corresponder ao tanque central do peristilo de uma domus romana, do qual se destacam duas bases de coluna da ordem coríntia, e a muralha romana tardia (finais do século IV/ século V d.C.), vestígios importantes para a construção da “manta de retalhos” que constitui o conhecimento da Lisboa antiga.

 

98. AS ÂNFORAS ROMANAS DA NOVA SEDE DA EDP (LISBOA)
José Carlos Quaresma / Rodrigo Banha da Silva / José Bettencourt / Cristóvão Fonseca / Alexandre Sarrazola / Rui Carvalho

O desenvolvimento do projecto da sede da EDP na zona do aterro oitocentista da Boavista, em Lisboa, foi acompanhado por uma intervenção arqueológica preventiva extensa, da responsabilidade da ERA Arqueologia, S.A.. O local revelou testemunhos da actividade portuária de Lisboa nos períodos da Expansão Ultramarina e Contemporâneo. Todavia, a intervenção proporcionou também a identificação de evidências de uma utilização mais remota do espaço fluvial, remontando à Época Romana. O conjunto de materiais datados do período romano é composto quase em exclusivo por fragmentos anfóricos, recolhidos nos níveis lodosos equivalentes ao fundo estuarino, de permeio com artefactos ulteriores. Contudo, o estado de conservação da maioria das espécies, onde alguns mostram apreciável estado de conservação, remetem para outro tipo de fenómenos originários das formações estratigráficas, conectados com a actividade portuária de Olisipo. A diversidade de tipos de ânfora presentes compreende morfologias lusitanas, béticas, itálicas e africanas, abarcando uma diversidade de cronologias e conteúdos associados, constituindo um contributo para o conhecimento da dinâmica comercial romana olisiponense e das conexões respectivas então estabelecidas entre a foz do Tejo e o trânsito de mercadorias entre o Atlântico e o Mediterrâneo.

 

99. AS ÂNFORAS DE TIPO LA ORDEN NA LUSITÂNIA MERIDIONAL: PRIMEIRA LEITURA, IMPORTÂNCIA E SIGNIFICADO
Rui Roberto de Almeida / Carlos Fabião / Catarina Viegas

No presente trabalho realizamos uma chamada de atenção para a presença na Lusitânia meridional de um tipo anfórico específico designado como La Orden, relativamente pouco conhecido no ocidente peninsular. Trata-se de uma ânfora que foi produzida nos arredores da cidade de Huelva (antiga Onuba) e que constitui um indicador privilegiado da persistência da produção/comercialização de preparados piscícolas da região da actual Andaluzia correspondente ao extremo ocidental da antiga província da Bética, durante o último terço do século V e a primeira metade do século VI d.C. Assim, através de alguns conjuntos cerâmicos onde foram recentemente detectadas, procuramos valorizar a importação e contextualizar a difusão destas ânforas, ainda que de forma preliminar, no quadro do território do actual Algarve durante o período tardo antigo.

 

100. COMBUSTÍVEL PARA UM FORNO: DINÂMICAS DE OCUPAÇÃO DE UM ESPAÇO EM MONTE MOZINHO (PENAFIEL) A PARTIR DE NOVOS DADOS ARQUEOBOTÂNICOS
Filipe Costa Vaz / Luís Seabra / João Pedro Tereso / Teresa Pires de Carvalho

Entre 2008 e 2011, durante escavações no sector A -2008 do Castro de Monte Mozinho (Penafiel), foram recolhidas amostras sedimentares para análise arqueobotânica em contextos da Antiguidade Tardia associados a várias estruturas, como lareiras, um forno e fossas. Apresentam -se dados inéditos que permitem reinterpretar a totalidade do conjunto arqueobotânico, assim como os seus contextos de proveniência. Foram identificadas várias espécies usadas como combustível, em especial giesta, castanheiro e carvalho. A recolha de grãos de cereais, palha e ervas daninhas, associados a um forno, sugere que resíduos de processamento de cultivos foram utilizados como combustível. A similitude entre os conjuntos arqueobotânicos aponta para que o compartimento adjacente tenha sido utilizado como local de depósito dos resíduos da limpeza do forno.

 

101. A NECRÓPOLE DE ALCOITÃO NO CONTEXTO DAS PRÁTICAS FUNERÁRIAS ALTO ‑MEDIEVAIS DO CONCELHO DE CASCAIS
Catarina Meira

O presente poster tem como finalidade apresentar os resultados do estudo da necrópole de Alcoitão, considerando os testemunhos arqueológicos respeitantes às práticas funerárias levadas a cabo no atual concelho de Cascais durante os séculos VI e VII.
A necrópole de Alcoitão é um cemitério composto por sepulturas de inumação, cujos indivíduos eram depostos com escassos espólios funerários. Observa -se a reutilização das sepulturas para uma sucessão de enterramentos, além de que grande parte das sepulturas de Alcoitão, orientadas canonicamente Este-Oeste, fossem estruturadas por esteios pétreos. Segundo um esboço de finais do século XIX, as sepulturas distribuíam -se em filas paralelas. Depreende -se com este estudo que o tipo de necrópole está associada à existência de uma pequena comunidade rural.

 

102. PAISAGEM E ESTRATÉGIAS DO POVOAMENTO RURAL ROMANO E MEDIEVAL NO TROÇO MÉDIO DO VALE DO GUADIANA
João António Ferreira Marques

Através da informação disponível para o conjunto de sítios arqueológicos intervencionados, situados nos actuais municípios ribeirinhos portugueses da barragem de Alqueva, constantes no sistema de informação Endovélico, nos relatórios e nas monografias dos trabalhos entretanto publicadas, pode efectuar -se uma síntese analítica da evolução do povoamento rural neste território, nomeadamente para os períodos romano e medieval. As intervenções efectuadas nesta área regional num conjunto muito significativo de ocorrências arqueológicas, desenvolvidas desde meados dos anos 90 do século XX, permitiram verificar quais as alterações e persistências na paisagem e nas estratégias de povoamento. Revelaram assim contextos que não costumam ser objecto da investigação arqueológica tradicional, nomeadamente para o período de transição entre a Antiguidade Tardia e a Alta Idade Média.

 

103. MÉRTOLA NA ANTIGUIDADE TARDIA. A TOPOGRAFIA HISTÓRICA
Virgílio Lopes

O presente trabalho inscreve -se numa linha de investigação arqueológica que tenho vindo a desenvolver, desde 1990, no Campo Arqueológico de Mértola. Os resultados são fruto de diversas campanhas de escavação que tenho levado a cabo como corresponsável, integrado na equipa da instituição e que, de uma forma ininterrupta, em muito têm contribuído para o conhecimento da cultura material e da topografia histórica da cidade de Myrtilis e do seu território na Antiguidade Tardia.